A Revista Publicittà tem contado, desde o seu início, com a colaboração luxuosa de amigos, profissionais dos mais diferentes segmentos que, com talento, nos emocionam, nos fazem pensar. Frederico Dalton, por meio de suas fotos e seus textos, tem exercitado a arte diante da qual não se fica indiferente, convida à reflexão e ao risco sempre presente de viver. Que essa contribuição seja a primeira de uma série, pois nos que editamos essa revista digital diária temos muito a ganhar com a presença do seu talento, assim, como esperamos, nossos leitores.
A INVEJA SEGUNDO FREDERICO DALTON EM TRÊS HISTÓRIAS CURTAS
Paula sentia muita inveja da amiga que já tinha duas filhas enquanto ela ainda tentava engravidar. Agora, a filhinha mais velha, de apenas oito anos, estava lançando um livro. O título era surpreendente para alguém tão jovem: “Como me tornei o que sou”. A tarde de autógrafos foi animada. A pequena escritora se dividia entre correr entre as amigas, autografar de pé mesmo e posar para os iPhones dos parentes. Paula comportou-se exemplarmente. E até comprou três exemplares para impressionar a amiga, ou, quem sabe, obrigar a menina a finalmente se sentar. Ao deixar a livraria, a primeira coisa que fez foi enfiar os três livrinhos numa lixeira.
O tema da inveja que uma patroa sente da empregada não é nada que a literatura já não tenha abordado. Mas agora está acontecendo comigo. Ela sabe que meu marido me trocou por uma bem mais jovem. Ela sabe que eu sofro de insônia enquanto ela faz um sexo maravilhoso com o marido, o caseiro gostosão que nem olha para mim. E, pior que tudo, ela sabe que estou bem acima do peso e faz doces maravilhosos para me acalmar.
Que mais pode desejar da vida um brasileiro cheio de juventude, vigor e beleza, com um emprego público e dois meses de licença-prêmio atualmente sendo desfrutados em Londres? Não ser invejado por mim. Tarde demais, baby. Sou a reencarnação de Jack, o Estripador, e aguardo por você com minha grande faca numa rua escura de Hoxton.