Pai e filhos da aldeia Krukutu, localizada na região de Parelheiros, zona sul da capital paulista, escrevem histórias infantis que relatam o modo de vida de seu povo. Jeguaká Mirim, de 14 anos, e Tupã Mirin, de 15, vivem na aldeia Krukutu, localizada na região de Parelheiros, zona sul da cidade de São Paulo. Na infância, aprenderam muitas histórias antigas na opy, casa de reza onde as famílias se reúnem, e com o pai Olívio Jakupé, também escritor.
Os relatos do povo foram traduzidos pelos garotos no livro Contos dos curumins guaranis (48 págs, R$ 36,90), que reúne oito histórias sobre o nhande reko (modo de vida) dos índios. A obra mostra como os guaranis mantiveram tradições, como a língua e cerimônias religiosas, apesar do longo convívio com o homem branco. Uma façanha que a maioria dos povos indígenas não atingiu.
“Aprendemos muitas histórias antigas e acredito que isso me ajudou a desenvolver meu modo de contar as coisas. O que também me levou a escrever foi o incentivo do meu pai, que é escritor e sempre me dizia para ler os livros dele. Eu li, gostei muito e resolvi escrever também. Depois de prontos, meu pai corrigia meus textos e dava ideias para melhorar as histórias. Comecei a escrever com 10 anos”, conta Tupã Mirin.
Jeguaká lembra que tomou contato com a língua portuguesa aos seis anos. “Na minha casa tinha televisão e eu ficava assistindo aos desenhos, o que me facilitou aprender mais rápido. Meu pai também lia muito para mim. Quando aprendi, comecei a ler por conta própria e senti vontade de ser escritor”, explica.
Olívio Jekupé, pai dos curimins, é o organizador do livro As Queixadas e outros contos guaranis (64 págs, R$ 38,70), também editado pela FTD, que recebeu o prêmio FNLIJ 2014 – Altamente Recomendável na categoria Reconto. O livro é uma coletânea de sete contos da cultura guarani escritos por cinco autores. A maior parte deles conta a origem de alguma coisa: por que é tão difícil caçar o urubu-rei; a origem do sol e da lua; por que os sapos fazem tanto barulho à noite; como um menino valente colocou limites ao sol, ao vento e ao frio; a primeira e única moça que virou sereia; um coelho silvestre (tapixi) tímido, mas curioso; o indígena que conheceu a Terra sem Males (Yvy Marãhe’y). O livro inclui uma apresentação e textos informativos sobre os Guaranis e sobre o cotidiano das crianças nas aldeias.
Jekupé nasceu em 1965 em Novo Itacolomi (PR) e recebeu este nome (que significa mestiço) por ser filho de mãe guarani e pai baiano. Iniciou o curso de Filosofia na Universidade de São Paulo (USP), mas não chegou a conclui-lo. É autor de 11 livros, dos quais três foram selecionados para a Biblioteca Internacional da Juventude, em Munique, Alemanha.
Terras indígenas
Mais da metade da população indígena brasileira está localizada na Amazônia Legal, onde os espaços são maiores e o ambiente mais propício à preservação da cultura e dos costumes. Em A cidade perdida (264 págs, R$ 36,00), os autores Álvaro Cardoso Gomes e Milton M. Azevedo apresentam uma aventura cheia de suspense na Floresta Amazônica. Espiões nazistas, um membro do serviço secreto britânico e alguns brasileiros chegam à região para investigar a história de uma suposta cidade perdida. Eles acabam presos, em plena floresta, por indígenas e por um maluco, o Conselheiro. O lugar é um labirinto de cavernas, como uma cidade subterrânea e abriga um meteorito com poderes mágicos e rico em urânio. O Conselheiro quer montar uma usina de refinamento de urânio para “dominar o mundo”, e os visitantes acabam descobrindo que ele é líder de uma espécie de seita que realiza até sacrifícios humanos. Momentos de grande tensão e lutas tiram o fôlego do leitor do início ao fim. Uma aventura que empresta elementos da floresta para contar um história de mistério.
A coleção “Biblioteca da Turma”, de Mauricio de Sousa, também retrata a Floresta Amazônica e os costumes indígenas. O Livro da Floresta Amazônica (120 págs, R$ 49,00) é uma viagem ao interior daquele ecossistema, destacando a urgência da preservação da natureza, dos povos e suas culturas e costumes. A série reúne seis livros multidisciplinares, voltada ao apoio didático, que trata ainda de civilizações antigas, animais pré-históricos, esportes olímpicos, crianças no mundo e arte nos museus brasileiros.
Também na linha educacional, a editora FTD traz o paradidático Capoeira: Patrimônio Cultural Brasileiro (80 págs, R$ 36,00). Os autores Eduardo D’Amorim e José Atil “Pinga Fogo” reúnem um rico material para complementar as aulas de História, Geografia e Educação Física. Criada pelos escravos brasileiros para lutar pela liberdade, recebeu influências africana, indígena e europeia. Atualmente, a capoeira é praticada em mais de 150 países e considerada esporte, arte marcial, herança cultural e filosofia de vida. Tem sido ainda uma poderosa ferramenta educacional, capaz de desenvolver as capacidades físicas, psicológicas e de relacionamento social. Moderno, o projeto gráfico apresenta seções dinâmicas, com notícias de jornais e revistas, obras de arte e fotos, que auxiliam a despertar o interesse do leitor jovem. As atividades provocam reflexões sobre a história e a sociedade brasileira.
Contos dos curumins guaranis
Autores: Jeguaká Mirim e Tupã Mirin
Ilustrador: Geraldo Valério
Número de páginas: 48
Recomendação: A partir do 4º ano
Preço sugerido: R$ 36,90