Não bastasse o rompimento de duas barragens da Samarco, mineradora controlada pela Vale (ex-Companhia Vale do Rio Doce) e a anglo-australiana BHP Billiton no último dia 5, na região de Mariana, em Minas Gerais, que cimentou de lama e rejeitos ferrosos o Rio Doce e varreu do mapa do Estado de Minas Gerais o distrito de Bento Rodrigues, a empresa continua a dar provas na região de total irresponsabilidade. O Rio Doce cimentado de lama e resíduos de mineração que podem representar risco à saúde abastece de água potável diversos municípios vizinhos ao seu leito, como Governador Valadares. É aí que quase se desenhou nova tragédia, pois a Vale enviou um primeiro carregamento de 300 mil litros de água para abastecer a população desta cidade contendo alto teor de querosene, segundo informou a Prefeitura de Governador Valadares nas redes sociais na última sexta-feira, 13. O que levou a Prefeitura a descartar o uso da mesma para fins humanos informando a decisão em nota oficial nas redes sociais que ilustra esta reportagem.
Já a Vale em lacônica nota, a exemplo das que tem divulgado deste o início desse desastre ambiental, busca tirar de si a responsabilidade na entrega de água para o consumo humano que colocaria em risco a saúde da população dizendo que os vagões que utiliza são limpos e apropriados e que não tem responsabilidade pelo transporte efetuado dos vagões de seus trens para carros pipa de Valadares. Bonito isso: uma empresa que deveria se preocupar em minimizar os efeitos do desastre ambiental que provocou continua a procurar terceiros para atribuir responsabilidade pela tragédia nessa região como se nada tivesse a ver com a atividade que exerce por meio da Samarco.
A tragédia ambiental causada pela Samarco é uma das mais graves já ocorrida no Estado de Minas Gerais. Além de mortes de pessoas e animais, comprometeu um importante rio, que dava nome à mineradora que integra o bloco de controle da Samarco, a Vale, e deixou sem água diversos municípios.
Até este domingo, 15, porém, a única penalização anunciada à Samarco são multas simbólicas do Ibama, no valor de R$ 250 milhões, que sequer cobrem o custo do desastre que comprometerá por gerações as cidades às margens do Rio Doce. A irresponsabilidade no trato com as comunidades é fato estarrecedor. O jornal O Tempo, de Minas Gerais, chegou a informar na própria sexta-feira, que moradores de Governador Valadares alertaram para o teor de querosene na água fornecida pela Vale. Não bastasse eliminar a fauna e flora do Rio Doce, o alvo agora parecem ser os moradores. É o que se pode chamar de uma tragédia em série com total desrespeito à população.