O desejo de animar o carnaval de uma vizinhança e a vontade de criar uma alternativa a alguns blocos saturados de foliões é o combustível que alimenta o crescimento constante do carnaval de rua do Rio de Janeiro. Um exemplo é o Bagunça Meu Coreto, bloco surgido em 2005 na então pacata Praça São Salvador, em Laranjeiras, hoje um dos points boêmios mais agitados da zona sul carioca.
Por Paulo Virgilio/Repórter da Agência Brasil
Nesta terça-feira (9), o Bagunça realizou seu 11° desfile, saindo como sempre 30 minutos antes da hora prevista (11h), para um percurso pelas ruas próximas, entre elas a Paissandu, onde o bloco desfilou sob as centenárias palmeiras. De volta à praça, tudo terminou em um baile até o meio da tarde, comandado a partir do coreto, que ao longo do ano é palco de várias atrações, entre elas as rodas de samba, aos sábados, e de choro, aos domingos.
Tudo começou com um punhado de moradores do entorno da praça que já saía em outros blocos da cidade. Outros amigos foram chegando e estava formado o grupo de 40 diretores, que até hoje está à frente do bloco. “Na época, essa praça era muito vazia. Quando a gente surgiu, o coreto não era tão bagunçado”, contou o professor Tarcisio Mota de Carvalho, presidente e um dos fundadores do Bagunça Meu Coreto.
“Modéstia à parte, fazemos o melhor carnaval do Rio aqui nesse bairro. É um bloco família, com muita presença de crianças, de moradores, a galera sempre muito fantasiada e a gente fica muito feliz de ter uma bandinha tocando marchinhas e sambas aqui no Bagunça”, disse, orgulhoso do bloco que ajudou a criar e que hoje reúne cerca de 4 mil foliões.
O carnaval do Bagunça atraiu este ano moradores de Laranjeiras, dos vizinhos Flamengo e Catete e de outros bairros da cidade. Até uma turista japonesa, Miwa Takara, natural da Ilha de Okinawa, incluiu o bloco no roteiro do primeiro carnaval de sua vida. “It’s wonderful [É maravilhoso, em português]”, disse, em inglês.
Moradora da São Salvador, a professora Maria de Fátima Costa Alves acompanha o bloco desde que ele surgiu. “No início era pouca gente. A porta-estandarte era uma senhora bem velhinha. Depois o bloco cresce e foram aparecendo outros aqui na praça, como o É do Pandeiro, aos domingos. Até o chorinho, quando chega o mês de janeiro entra no ritmo do carnaval, uma hora antes de terminar [por volta das 13h de cada domingo]começa a tocar marchinhas e fica como se fosse um baile”, lembrou Fátima.
Motivo de reclamações de grande parte dos moradores, devido ao excessivo barulho noturno e à sujeira deixada após cada noitada, o point noturno em que a Praça São Salvador se transformou nos últimos dez anos tem um lado positivo, na visão de Fátima. “Sou moradora desde o tempo em que a gente tinha medo de atravessar a praça de um lado para outro depois das 22h. Quem reclama do barulho hoje não viveu essa época”, disse.
Já o fundador do Bagunça Meu Coreto reconhece que é preciso haver uma organização. “A praça é um point e a gente gosta muito, mas a gente precisa muito do Poder Público dando estrutura e garantindo para que a praça não fique o que tem sido durante a noite. A saída não é a repressão, mas a conversa, o diálogo e a democracia”, disse Tarcisio Mota.