Um otimista incorrigível
Por Sônia Araripe/Editora de Plurale
Tive o privilégio de trabalhar na equipe de Assessoria de Imprensa da Vale por quatro anos na gestão de Roger Agnelli, de 1994 a 1998. Meu chefe, o jornalista Fernando Thompson, fez o irrecusável convite. “Você vai trabalhar conosco junto ao Roger Agnelli”, revelou. Era a senha para confirmar o convite aceito. Foram alguns dos melhores anos de minha vida profissional. Escrever logo após esta tragédia que retirou a vida de Roger – tão jovem, de 56 anos – e de sua família não é nada fácil. Mas jornalistas têm o dever do ofício de reportar. Mas também a permissão de sentir…e se emocionar.
Na verdade, como repórter especializada em mercado financeiro no Jornal do Brasil, já conhecia Roger de outros tantos anos atrás, ainda como executivo que despontava na área de Relações com Investidores do Bradesco. Sabia do seu entusiasmo pelo trabalho, pela Comunicação, pela transparência, pelo Brasil. Era, acima de tudo, um otimista incorrigível.
É bom lembrar que a valorização dos papéis da Vale foi espetacular no período de 10 anos de sua gestão e o lucro da empresa saltou de US$ 1,287 bilhão para US$ 17,264 bilhões, um espetacular crescimento de 1.241%, e o valor de mercado de US$ 9,174 bilhões para US$ 17,306 bilhões (aumento de 1.822%).
Por lá tive quatro anos de muito trabalho. Insano mesmo, rodando o Brasil e o exterior de Norte a Sul, Leste a Oeste, mergulhando em projetos desafiadores, acreditando que aquele era um envolvimento não só profissional, mas também de desafios e crenças. Roger detestava ser chamado de “Doutor”, estava sempre acessível e sabia dar valor para “interlocutores”, fossem eles chefes de Estado, do chamado mercado, da mídia ou representantes simples de comunidades. Não falava de sustentabilidade. Praticava e cobrava.
Era garboso, como eu gostava de contar para os (as) tantos (as) curiosos (as) que perguntavam como era no trato diário. Vaidoso, não de uma vaidade pessoal, mas de um projeto de vida. Não da miudeza, do meu, do seu, do nosso. Mas de um projeto que transformasse a Vale em modelo de empresa globalizada e forte. Foi um empresário a serviço de um bem maior. Do Brasil. Do mundo. Vá em paz, chefe. Ficamos aqui, mais pobres de homens públicos com a sua alma encantadora.