DESEJOS SEGUNDO FREDERICO DALTON

De vez em quando recebo a visita dos desejos que não realizei. Eles nunca se esquecem de mim. Entram, sentam-se no sofá da sala e tentam me animar dizendo que o ano está apenas começando, mesmo que já seja junho. E assim vamos envelhecendo juntos, sempre evitando conversar sobre nossa idade. Os desejos realizados são infiéis. Fizemos o que tivemos que fazer e depois cada um seguiu seu caminho.

Estou muito afim de um cara. Como posso desejar tanto alguém que conheço tão pouco? Ele é pura complexidade. Só de conexões no cérebro tem mais de 10 trilhões. Sua imaginação é infinita. Suas histórias, suas memórias… o que ele já comeu, o que ele deseja… são universos dentro de universos. Sua realidade é toda construída a partir de uma outra perspectiva. Tô ferrado.

 

Elisa queria muito um marido. Ela leu o best-seller “O Desejo”. Então, começou a repetir o tempo todo: “Obrigado, Universo, pelo marido que você me deu.” Mas Elisa devia ter sido mais específica. Na verdade deveria ter repetido: “Obrigado, Universo, pelo marido que você me deu e que me ouve, não se comporta o tempo todo como um adolescente e que só tem uma mulher de cada vez”.