Por Paulo Virgílio/Repórter da Agência Brasil
A curiosidade pelos fatos que antecederam a história da escravidão e o fascínio em relação às proximidades culturais entre o Brasil e os países africanos que comercializavam escravos foram os fios condutores que levaram César Fraga à expedição, na qual investigou as próprias origens. O fotógrafo e designer é bisneto de uma beneficiária da Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos das mulheres escravas nascidos a partir de 1871, quando essa legislação pré-abolicionista foi aprovada.
Durante um ano sabático na África do Sul, ele percebeu a necessidade de dar sua contribuição para encurtar a distância cultural que separa o Brasil do continente africano. As fotografias que integram a exposição foram publicadas no livro Do Outro Lado, resultado da expedição de Fraga, que documenta a cultura e o cotidiano das localidades visitadas e, por vezes, sua correlação próxima com os costumes brasileiros.
“Grande parte do povo brasileiro vem da mistura entre colonizadores brancos, indígenas nativos e negros trazidos à força da África. Referências europeias não faltam, basta ligar a TV. Mas há muito ainda a se descobrir sobre nossos ancestrais índios e negros, os grandes silenciados da história. Foi assim que nasceu o projeto Do outro lado”, conta Cesar Fraga. Designer formado pela Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ele é fotógrafo autodidata e já atuou em projetos na América do Sul, Europa, África, Ásia e Antártica.
Roteiro
Elaborado pelo professor e escritor João Reis, considerado um dos mais importantes africanistas brasileiros, o roteiro da viagem abrangeu cidades e regiões protagonistas do tráfico de escravos. Entre 2013 e 2014, foram 60 dias percorrendo Cabo Verde, Senegal, Guiné-Bissau, Gana, Togo, Benim, Nigéria, Angola e Moçambique, países de onde saíram boa parte dos 11 milhões de homens e mulheres vendidos como escravos – quase metade tendo o Brasil como destino – ao longo de 350 anos.
O nome da exposição – Sankofa – refere-se a um mítico pássaro africano de duas cabeças, que, segundo a concepção nativa, simboliza voltar ao passado para dar outro sentido ao presente. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal, e conta com apoio do Ministério das Relações Exteriores e de empresas privadas.
A mostra fica em cartaz até 22 de dezembro e pode ser vista de terça-feira a domingo, das 10h às 21h. A entrada é gratuita. A Caixa Cultural Rio de Janeiro fica na Avenida Almirante Barroso, 25, no Centro.