Com o conceito “Seja íntimo dos grandes pensadores”, a Africa assina o filme que anuncia a “Coleção Folha Grandes Nomes do Pensamento”, do jornal Folha de S.Paulo. Com estreia nesta quinta-feira, dia 14, o comercial mostra um inusitado jogo de poker em que Karl Marx, Friedrich Nietzsche, René Descartes e um jovem dos dias atuais filosofam a respeito de um salgadinho.
A campanha conta, ainda, com anúncios para mídia impressa, spots de rádio e Internet. A Coleção Folha Grandes Nomes do Pensamento é composta por 28 livros. São obras na íntegra dos maiores filósofos da humanidade. Nas bancas todos os domingos, a partir do dia 24 de maio.
Faces que criaram as bases do pensamento e da filosofia ocidental, Marx, Nietzsche e Descartes são pilares indiscutíveis da vida acadêmica e cotidiana e de fácil identificação na pele de sósias e com a ajuda generosa de maquiagem. Os questionamentos desses grandes homens que colocaram na mesa, não de poker, mas do conhecimento, nos movem ainda hoje. A dinâmica das experiências, dialética pura, pois a sociedade – e essa contribuição devemos a Marx – se move, muda e quebra conceitos, um dia nunca é como o outro nessa jornada individual ou coletiva.
Esse mesmo homem que busca um elo com o divino, o sagrado e o profano presentes nos aforismos de Nietzsche e que levou Descartes a criar complexas equações matemáticas que ainda nos guiam para provar, acredite, a existência de Deus por meio do chamado pensamento cartesiano.
A Folha de S, Paulo, por sua vez, sabe que a venda de jornais impressos está em queda. Sentiu isso nos recentes cortes de pessoal, atingindo inclusive o seu próprio coração – a redação – e assim recorre ao expediente sempre frequente de vitaminar o jornal com algo que interessa aos seus leitores, como a coleção “Grandes Nomes do Pensamento”.
O drama que todo veículo a exemplo da Folha de S. Paulo vive quando adota esta estratégia é o famoso “Tostines”, vende mais porque traz notícias fresquinhas nesse período ou vende mais porque vitaminou a venda com livros, CDs e filmes? A esperança, dialética, ora como diria Marx se repetindo como verdade, ora como farsa, é que os leitores que compram a edição nas bancas em busca dos livros, voltem a comprar quando os livros não mais se fizerem presentes, apenas as notícias fresquinhas (cada vez mais raras).
Uma dúvida cruel que a filosofia não responderá, mas talvez o poker. E a Africa sabe com perfeição e um bom filme tirar proveito desta situação. Uma bela cartada, ainda que o jogo hoje para os jornais seja mais duro: vencer a reticência dos leitores, buscar entregar qualidade ainda que o nível desses mesmos leitores esteja descendo ladeira abaixo, o que faz com que os veículos possam prescindir de bons quadros, por isso, mais caros, trazendo apenas as notícias fresquinhas (nem tanto dada a velocidade em tempo real das plataformas digitais) e sem recheio, a análise. Tostines aprendeu, por outro lado, que o bom recheio é a alma do seu negócio. Os jornais têm perdido não apenas leitores mas também o recheio.
Fica no ar a pergunta: os grandes pensadores conseguiram salvá-lo? Ampliar a tiragem em tempos de “vacas magras”? Bem, isso já é outra página da história ainda a ser escrita, como verdade ou como farsa, a experiência o dirá.
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