A semana que passou foi marcada por anúncio da agência AlmapBBDO em vários veículos de mídia num tom pouco amistoso: “Pense duas vezes antes de falar da AlmapBBDO”.
Com este alerta, a agência decidiu contar a sua história de prêmios na publicidade e reconhecimento internacional e também informar que estavam erradas informações veiculadas na semana imediatamente anterior, quando o ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha foi preso, no último dia 19 de outubro, de que a agência teria repassado dinheiro da companhia aérea Gol a Cunha sem a prestação de nenhum tipo de serviço. Essa operação é alvo da investigação que levou Cunha à prisão.
A agência alegou, em sua defesa, que comprou espaço em mais de 50 veículos a pedido do cliente e se disse – mistério da fé – surpreendida com o fato de que dois deles, Fé em Jesus e Bom Mercatto, pertencerem a Cunha. As agências, de fato, são intermediárias, ou melhor, agenciam o dinheiro do cliente para garantir sua exposição na mídia e, além dos critérios técnicos, seguem pedidos e recomendações do próprio cliente. O que não significa que seus profissionais da área de mídia, especialistas em pesquisas, não tenham nenhum conhecimento sobre a origem dos veículos que recebem o dinheiro. Seria um excesso de ingenuidade pouco visto em agências, mesmo com o cliente determinando o pagamento.
Na última quinta-feira, 27, o jornal Folha de S. Paulo trouxe reportagem baseada nos dados repassados pela AlmapBBDO para a Polícia Federal. Revelam que para veicular quatro banners (imagens publicitárias) em cada endereço ligado ao ex-deputado, a companhia aérea gastou R$ 200 mil (R$ 250 mil em valores atuais) por mês entre 2012 e 2013. O investimento total foi de R$ 2,2 milhões (R$ 2,7 milhões em valores atuais).
A Folha de S. Paulo vai além e diz:
O maior desses sites, o portal evangélico Fé em Jesus, tinha audiência média de 150 mil “page views” por mês, segundo a ferramenta de medição de tráfego Similarweb. Isso significaria hoje um custo de R$ 416 a cada mil visualizações (chamado no mercado de CPM, custo por milhar de impressões).O editor de um dos maiores sites evangélicos no país, que pediu para não ter seu nome publicado, diz que seu site cobra um CPM de R$ 3 — 0,72% da taxa paga pela Gol a Cunha.Se esse valor fosse aplicado para os banners comprados pela Gol, o valor recebido pelo ex-deputado seria apenas cerca de R$ 1.800 reais mensais.Grandes portais, como UOL (do Grupo Folha, que edita a Folha) ou o ‘G1’, adotam CPM de até R$ 30 na tabela de preços, mas, por prática de mercado, os descontos nesses valores costumam passar de 70%.
No total, segundo os registros da AlmapBBDO, a Gol pagou 11 parcelas de R$ 200 mil a Cunha. Sete foram em nome do Fé em Jesus e outras quatro para um site chamado Bom Mercatto, que funcionaria como plataforma de comércio eletrônico, explica a Folha de S. Paulo.
A reportagem na íntegra você lê aqui.
E lembre-se, antes de falar dos valores absurdos do dinheiro repassado pela Gol a dois sites de Cunha, do anúncio da agência: “Pense duas vezes antes de falar da AlmapBBDO”, que talvez no desenrolar do caso dê origem a outros como “Pense três vezes……, quatro vezes…..”. É uma novela ainda em curso.,. Longe de chegar a um final. A Gol, por exemplo, disse em nota que está apurando o ocorrido. Não apurou ainda o que houve, mas os recursos foram repassados. A Polícia Federal tem certeza disso e a AlmapBBDO, com seus documentos, comprovou as operações.
É muito dinheiro e pouca fé em Jesus, o homem que deixou seu legado num único mandamento: o de amar ao próximo como a ti mesmo. Alguns trocaram o próximo pelo dinheiro. Muito dinheiro a si mesmos. Tanto pior que arrecadado em nome de Jesus.