Em meio a acarajés e artesanato brasileiro, arepas colombianas, fattehs sírios e vestes com estampas típicas do Congo não deixaram faltar cor e sabor à feira cultural e gastronômica que reuniu ontem, 18, refugiados e brasileiros na Praça Mauá, na região portuária, centro do Rio.
A tenda da colombiana Nelly Camacho, 53 anos, era a mais concorrida. “As arepas são feitas de milho branco, como a que vocês usam para fazer canjica, é cozido, moído e depois assado”, explicou. Há quatro anos e meio no Brasil, Nelly saiu da Colômbia fugindo da violência causada pelos conflitos armados no país. “Estou feliz, o Brasil é muito tranquilo. Ainda estou tentando trazer a família toda. Trouxe meus quatro filhos, falta trazer dois que ainda estão lá.”
Apesar dos elogios ao novo lar, Nelly disse que a burocracia no Brasil é o maior empecilho para os refugiados que querem levar uma vida normal aqui. “Estou esperando uma permissão do estado para trabalhar na rua, pois sou artesã. Então tenho sempre o medo de ser perseguida pela polícia.”
O sírio Anas Rjab, 30 anos, também foi obrigado a deixar sua terra natal por causa da violência causada por uma guerra civil que já matou quase 300 mil pessoas e provocou o êxodo de milhões de sírios desde 2011. Há um ano morando no Rio, Rjab trabalha vendendo quitutes árabes.
“Brasileiro não tem frescura, gosta de experimentar as comidas”, disse ele, que veio para o Brasil sozinho mas tem esperança de trazer os parentes. “A adaptação é difícil, mas o Rio é muito lindo e as pessoas muito agradáveis. Meus pais estão idosos e não querem sair de lá, mas meu irmão mais novo quer vir”, contou.
O evento foi promovido pelo Museu do Amanhã, localizado na praça, em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro e faz parte das comemorações do Dia Mundial do Refugiado, celebrado todos os anos no dia 20 de junho.
Acolhida
Para a coordenadora do Programa de Atendimento de Refugiados da Cáritas, Aline Thuller, uma feira com esse perfil é o ambiente ideal que a população local interaja com os estrangeiros e desfaça preconceitos.
“Infelizmente, os refugiados ainda são muito confundidos com foragidos. Acham que eles fizeram algo ruim para terem que fugir”, disse. “Então essa troca é muito importante, aproxima as pessoas. Vemos os brasileiros curtindo outras experiências e conhecendo comidas, e os refugiados tendo a alegria de apresentar sua cultura e serem respeitados por isso.”
Aline informou que a ideia é replicar a experiência em outras feiras do Rio de Janeiro e que vai discutir com os parceiros a possibilidade de os refugiados participarem com regularidade da feira local, Os Sabores do Porto, na Praça Mauá.