A morte de Pascaline, a popular mulher-pantera (onça seria mais apropriado em português) enlutou a Côte D’Azur. Pascaline e sua filha Esmeralda, sempre trajadas com roupas de oncinha, tornaram-se há 32 anos o símbolo dos festivais de Cannes. Fotografadas por turistas, publicitários, cineastas, produtores, gente comum, ficarão para sempre na memória mais que comerciais e filmes projetados no Palais des Festivals. Elas, afinal,sempre estiveram envoltas no mistério dessa opção pelo modo de ser e se divertir, por oferecer a qualquer um e a todos sorrisos e elegância mesmo aos que as olhavam com desdém, buscando o rótulo mais simples de que se tratavam de profissionais do sexo, a mais antiga e bíblica das profissões, para classificá-las como se ícones pudessem ser rotulados, até podem, mas sobrevivem aos rótulos, na memória e nas imagens dessa região francesa agora enlutada.
POR CARLOS FRANCO
Esmeralda Petit, presença constante ao lado da mãe Pascaline, promete, em sua homenagem, seguir com o ritual da presença em Cannes, Lille, Nice, Saint-Tropez, Saint-Raphael, Grasse e onde quer que se realizem festas e eventos na Côte D’Azur, na região dos Alpes Marítimos. Um ritual, agora, de uma onça solitária, mas a marcar a existência, a presença viva, de Pascaline, cujo corpo está sendo velado até quinta-feira, 25, no funeral da rue Gambetta em Armentières de onde seguirá na sexta-feira, 26, para o cemitério da igreja St. Vaast Armentières.
Em entrevista à France3 Nord Pas-de-Calais, da Francetv, Esmeralda diz que o eclipse se formou no céu e o sol apagou com a morte da mãe. Figura poética que tem tudo a ver com Pascaline, uma mulher que sempre esteve disposta, mesmo enfrentando um câncer de útero, a viver a vida indiferentemente dos comentários jocosos, alguns em português bem brasileiro, que ouvia pelas ruas e mesas onde sempre passeavam. Se a Praia dos Ossos, em Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, teve em Brigitte Bardot o seu ícone, as calçadas da Croisette, por onde desfilam os participantes dos festivais de Cannes sempre tiveram na presença das duas oncinhas o seu referencial. Perdem assim muito. Na última edição do festival de cinema, elas estavam lá porque sempre estavam presentes em todos os eventos. No de publicidade, agora intitulado de criatividade, saíram de cena.
Roger Hatchuel, que durante longo período comandou o festival de publicidade, sempre as cortejou como deveria, conhecedor de que elas sempre seriam mais que um retrato, o símbolo dos festivais nesse balneário.
É, portanto, com tristeza que nos, da Revista Publicittà, nos despedimos neste poste de Pascaline fazendo coro ao que disse Esmeralda de que um eclipse se formou e o sol se apagou este ano no festival, ainda que os leões continuem a rugir no Palais, o calçadão da Croisette nunca mais será o mesmo. Elas farão falta mesmo que, em seu ato de fé na vida, Esmeralda se disponha a seguir o legado de Pascaline, a que sete artes viveu e se emoldurou da sétima arte como ninguém. Tornou-se símbolo e referência, um ícone. Oncinhas de verdade, nada a ver com oncinhas de ocasião, algumas muito mais vulgares e que, por isso mesmo e apesar das grifes que usam e que elas nunca usaram, nunca chegarão a serem ícones, entrar para história.
Pascaline, descanse em paz no reino das panteras que, dizem, são imortais.
Na foto de Maxppp que integrou exposição consagrada à Wazemmes, em Lille, em fevereiro de 2014, reproduzida pela France3, da Francetv Nord-de-Calais, a melhor imagem das oncinhas.
Adieu Pascalani, ou melhor, au revoir!