O poeta Carlos Drummond de Andrade parecia prever o desastre provocado pela Samarco, empresa controlada pela Vale (ex-Companhia Vale do Rio Doce) e a anglo-australiana BHP Billinton quando escreveu, em 1984, o poema “Lira Itabirana” que aqui ilustramos com imagem do vídeo feito por pescadores da região. Ele mostra a morte dos peixes e a morte do rio decorrentes do rompimento de duas barragens na região de Mariana, no Estado de Minas Gerais, no último dia 5 e que também varreram do mapa o distrito de Bento Rodrigues deixando um rastro de destruição e a população de várias cidades ao longo do rio (banha 29 em Minas Gerais e 11 no Espírito Santo), como Governador Valadares, sem água potável. Profético Drummond antevia inclusive o quanto é amarga a Vale e a presença de gananciosas multinacionais em busca do minério na região enquanto no seu tempo o rio ainda era doce, hoje é de lama e de desolação em seus 853 quilômetros. A imagem do maior desastre ambiental da região mineira é a prova evidente de que multas simbólicas do Ibama no valor de R$ 250 milhões não irão restituir jamais o meio ambiente, as gerações de hoje nunca mais verão o Rio Doce em seu esplendor. Vale e BHP Billiton conseguiram a façanha de matar um rio sua fauna e sua flora.
Lira Itabirana
I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?