A Apple ampliou sua base na China inaugurando no final de janeiro uma store, uma loja, na cidade de Hangzhou e o fez como deve ser feito: respeitou a cultura local e convocou o artista plástico Wang Dongling, um especialista em caligrafia, para pintar poeticamente o seu novo espaço na cidade às margens do belo West Lake.
POR YUME IKEDA, DE TOKIO
Os orientais, em que pese as diferenças e rivalidades, como nós, descendentes de japoneses, e os chineses, nossos rivais por uma longa guerra que deixou marcas e nos separou, temos em comum o respeito à ancestralidade. É isso que nos torna muitas vezes diferentes quando comparados com os ocidentais. E isso não tem nada a ver com apego, mas com poder olhar para trás e saber que chegamos aqui e aonde vamos chegar ao contemplar o horizonte sem nunca esquecer de onde saímos, dos nossos hábitos e costumes, da nossa língua e da nossa identidade enquanto povo, etnia.
Então, é preciso dizer que a Apple fez o que deveria ser feito ao instalar uma loja em Hangzhou, a próspera capital da província de Zhejiang, no final do mês passado, em janeiro de 2015. Hangzhou é um porto a 180 km de Xangai e centro logístico para diversas cidades chinesas, um país com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, das quais mais de 8 milhões de habitantes vivem em torno de um acelerado ciclo de crescimento industrial nessa cidade.
Mas Hangzhou é mais do que isso, a região que recebe turistas de todo o mundo está às margens do belo West Lake e foi esse lago, espelho reluzente do progresso, a fonte de inspiração do artista. Ele escreve um poema, falando da beleza do lago na chuva – e sempre chove na China, por isso são famosas as suas sombrinhas como são famosos os seus chapéus como telhados de casas. O título fala em si da beleza que se pode apreciar contemplando o lago na chuva – Praising West Lake in the Rain – e é também bonito apreciar como o filme da Apple mostra o talento local. É um espaço para uma empresa dos novos tempos, focada no design e na tecnologia, mas que soube fazer como deve ser feito: respeitar as tradições chinesas, aliar a sua marca aos chineses. Não deixa de ser um bom exemplo para aqueles que só veem os chineses como números, ávidos consumidores capazes de elevarem as vendas para além, muito além de suas arquitetônicas muralhas.
