Por Carlos Franco
O jornal Correio de Uberlândia cerra hoje, 31 de dezembro de 2016, as suas portas. O jornal que há 80 anos é responsável pelo noticiário diário desta cidade, a mais importante da região do Triângulo Mineiro, e que, desde 1995, conta com uma versão online na internet, encerra de vez as suas atividades. A partir de agora, o veículo será lido apenas em arquivos contendo o noticiário das últimas oito décadas, inclusive na internet onde o site continuará ativo apenas para consulta, sem atualização. A decisão do Grupo Algar, que edita esta publicação diária, foi comunicada há dois meses em nota oficial, mas é a última crônica, assinada pelo colunista Carlos Guimarães Coelho, publicada na edição desta última semana do ano, o texto que melhor expressa aquilo que representa o fim do Correio de Uberlândia: “O SILÊNCIO DO VAZIO”.
A todos aqueles que nos últimos 80 anos trabalharam e consolidaram o Correio em Uberlândia e região, a nossa integral solidariedade.
Leia a crônica de Carlos Guimarães Coelho publicada nesta derradeira semana do ano de 2016 e abaixo dela a nota oficial do Grupo Algar sobre o fechamento do Correio de Uberlândia:
O SILÊNCIO DO VAZIO
Por Carlos Guimarães Coelho
Essa não é somente a última semana do mês e do ano. É a última, depois de quase oito décadas, deste CORREIO de Uberlândia. A sensação que fica é a de esvaziamento. De nada em lugar algum. Uma publicação elogiada e criticada simplesmente será extinta. Extinguir-se é um ato de coragem. É continuar a sombra daquilo que já foi. O CORREIO continuará na memória, no Arquivo Público Municipal e na ausência. Sim, ausência também é presença.
Fará falta aos que o criticaram e aos que o elogiaram.
Os que o elogiavam, não o faziam por benevolência. Era por reconhecimento. Por perceber a luta e o
comprometimento de suas várias equipes. Para saber um pouco da história basta calçar a luva e percorrer as páginas amareladas de milhares de edições. Estão lá todos os acontecimentos relevantes, os embates políticos, os eventos culturais e sociais, as transformações urbanas, o progresso, o caos, a alegria, a tristeza, todos os sentimentos, enfim, que habitam qualquer cidade de qualquer País.Por mais que alguns queiram acentuar discursos em defesa da comunicação virtual, não é só pelo ritualístico que outros tantos defendem a permanência do impresso. Além de, comprovadamente, a internet não ter o mesmo poder de perpetuação, há processos engendrados no cotidiano de um jornal que vão além do altruísmo.
É bom que as pessoas entendam que a perda de nosso único jornal diário não é um acontecimento isolado. É a exclusão de uma roda da engrenagem que move a indústria local da Comunicação. E também da Cultura, pois será abstraída dos artistas sua mais importante vitrine.
Além de o veículo impresso servir de pauta e de referência para outros veículos, perderá também o circuito acadêmico. Os cursos de Jornalismo não terão para onde encaminhar a estágios seus alunos com talento para a investigação e a escrita. São muitos os profissionais, hoje com expressão e boa colocação no mercado, que iniciaram a trajetória aqui, incluindo o autor destas linhas, o coordenador desta redação, a editora deste caderno e a maioria hoje nas redações jornalísticas de Uberlândia.
Lamentavelmente, no próximo domingo, não existirá mais o som do jornal caindo em sua garagem ou em seu jardim. A madrugada será mais silenciosa e esse silêncio percorrerá o dia. A edição não será mais objeto de comentários no café da manhã, de debates nas redações, nas faculdades de jornalismo e nem mesmo nas redes sociais da internet, onde suas matérias frequentemente reverberaram. Será o silêncio do vazio. Isso, além da saudade, trará também alguns danos. O maior deles é fazer de Uberlândia uma cidade ainda mais desinformada.
De minha parte, me despeço já saudoso. De tudo que vivi, senti, aprendi, observei e escrevi. Por de dentro, a história é outra. Só quem a vive pode entender do que se trata.
NOTA OFICIAL DO GRUPO ALGAR
O grupo Algar está promovendo uma revisão do seu portfólio de negócios, com isso, irão acontecer entradas e saídas de algumas atividades. Por quase 80 anos o Grupo editou o Jornal Correio de Uberlândia, produzindo um jornalismo independente e de qualidade, respeitando seus profissionais, leitores, anunciantes, fornecedores e parceiros.
Mas, no atual cenário mundial de negócios de mídia, onde grandes veículos impressos passam por enxugamentos ou deixam de existir, o grupo Algar entende que cumpriu sua missão e com o novo direcionamento estratégico, optou por descontinuar o jornal, cuja última edição será veiculada no dia 31 de dezembro de 2016. Até essa data, seguiremos com o compromisso de produzir um jornalismo da melhor qualidade.
A Algar agradece a todos os profissionais que passaram pelo jornal, aos assinantes, leitores, anunciantes e à comunidade de Uberlândia. O Grupo encerra esse capítulo de sua história, mas seguirá crescendo e gerando cada vez mais empregos na cidade nas áreas de negócios que compõem o conglomerado, honrando e respeitando Uberlândia e região e continuando a contribuir para o desenvolvimento socioeconômico regional.