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A CULTURA DO ESTUPRO NO BRASIL

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A Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI do Rio de Janeiro)  abriu investigação para apurar vídeo de um estupro coletivo postado ontem, 25, no Twitter, em que uma menina de 16 anos foi violentada por 30 homens e compartilhadas por outros tantos. As imagens chocaram internautas que denunciaram o vídeo, alertando os movimentos de defesa da mulher e dos direitos humanos neste que consiste num atentado violento à integridade de toda a sociedade. A garota foi identificada e fez hoje, 26, exames de corpo delito. Diversos internautas e instituições estão contribuindo com as investigações.

Jornalista, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), professor de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York, Leonardo Sakamoto, em seu blog, traçou um perfil correto e preciso da cultura do estupro no Brasil. Diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão, Sakamoto, como um bom cirurgião de palavras, expõe a crueldade deste ato e a cumplicidade de uma sociedade doente, que ergue hoje uma perigosa ponte para o obscurantismo. Leia o texto postado pelo jornalista e compartilhado hoje por centenas de pessoas nas redes sociais e não deixe de visitar o blog do Sakamoto, um dos jornalistas mais precisos na análise atual do Brasil.

 

Cultura do estupro no Brasil: Homem, de que lado você está?

Por Leonardo Sakamoto

Tão chocante quanto o estupro denunciado por uma jovem de 16 anos, que teria envolvido mais de 30 homens, no Rio de Janeiro, e tão chocante quanto os vídeos que mostram seus ferimentos e foram postados na internet, foi a reação de uma parcela da sociedade, que se divertiu nas redes sociais com eles e com a história. E a inação de uma outra parte, que culpou a própria vítima pelo ocorrido ou simplesmente caiu no autoengano de que essa história não nos diz respeito.

No mesmo dia em que o caso gerou indignação nas redes sociais, o novo ministro da Educação recebia o ator Alexandre Frota para discutir a educação (!!!) no Brasil. O mesmo Frota que, durante uma entrevista a um programa de TV, narrou um caso de violência sexual do qual foi protagonista contra uma mãe-de-santo, para deleite da plateia, que ria como se fosse uma piada. Acusado por organizações sociais de estupro e de apologia ao estupro, deu de ombros.

Enquanto isso, o deputado federal Jair Bolsonaro sobe nas intenções de voto, principalmente entre as classes mais ricas. Tempos atrás, durante um debate com a também deputada federal Maria do Rosário, soltou uma das maiores ignomínias de sua carreira: “Jamais iria estuprar você, porque você não merece”. Ao dizer que ela não merecia ser estuprada, deixando claro que há mulheres que merecem, sabia que seu discurso receberia o apoio de uma quantidade considerável de pessoas.

Os 30 homens no Rio, Alexandre Frota, Jair Bolsonaro foram criticados e acusados por um grande número de pessoas, mas também defendidos e glorificados por outros tantos. Vivemos em uma sociedade que garante que o estupro continue a ser um instrumento violento de poder, de dominação, de humilhação. Uma sociedade na qual uma das maiores agressões ao corpo e à mente de outro ser humano é banalizada, menosprezada e tratada como piada. Em um país em que mulheres ainda são tratadas como objetos descartáveis à disposição dos homens.

Tanto que o governo desse país escolhe um ministério formado apenas por homens e não é obrigado a voltar atrás.

Quando mulheres são sistematicamente estupradas, não apenas seus corpos e almas são violentados. A dignidade de todas as mulheres é coletivamente agredida e negada. Porque falhamos profundamente como sociedade em garantir um dos direitos mais fundamentais. E se isso acontece junto a discursos que louvam ou relativizam esses estupros, podemos começar a nos questionar que tipo de povo somos nós.

Violência sexual não é monopólio de determinada classe social e nível de escolaridade. Quem espanca e violenta pode ter apertado o sinal de parada do ônibus ou roçado o banco de couro de um BMW. O que une os diferentes no Brasil, afinal de contas, não é o futebol, a religião ou a comida. É a violência de gênero. A cultura de estupro é um “privilégio” masculino, que vem sendo derrubado pelo feminismo ao longo do tempo, mas com dificuldade, porque encontra a resistência de homens pelo caminho.

Meninos e rapazes deveríamos nos conscientizar uns aos outros, desde cedo, para que não sejamos os monstrinhos formados em ambientes que fomentam o machismo, como família, igrejas, escolas e mídia.

Todos nós, homens, de esquerda, de direita, de centro, somos sim inimigos até que sejamos devidamente educados para o contrário. E, tendo em vista a formação que tivemos e a sociedade em que vivemos, que autoriza e chancela comportamentos inaceitáveis, é um longo caminho até que isso aconteça.

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