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DIÁRIO DO GOLPE: A AULA DE CINISMO DO PROFESSOR CRISTOVAM - Revista Publicittà DIÁRIO DO GOLPE: A AULA DE CINISMO DO PROFESSOR CRISTOVAM - Revista Publicittà

DIÁRIO DO GOLPE: A AULA DE CINISMO DO PROFESSOR CRISTOVAM

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Por Carlos Franco

Justificar o injustificável exige sempre grande exercício retórico e por vezes a retomada de valores filosóficos que o tempo apagou em nome da convivência, do respeito às diferenças e no apego à democracia e seus valores mais caros que marcaram o surgimento da pólis grega na antiguidade; ainda que nesta a diferença entre escravos e homens livres se fizesse presente; e, posteriormente, no surgimento dos estados-nações e nas conquistas – sendo o voto direto a mais importante e significativa delas – capaz de diminuir justamente o fosso das diferenças e marcada por lutas como a das mulheres pelo exercício do sufrágio, que se deseja universal, portanto inclusivo.

O pernambucano Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque, nascido no Recife em 20 de fevereiro de 1944, ao justificar o voto com o qual pretende cassar o dos 54 milhões brasileiros que escolheram como governante Dilma Rousseff nos oferece uma verdadeira aula de cinismo. O homem que ousou sonhar com um país mais inclusivo, inclusive formulando políticas que pudessem universalizar o ensino – cuja a ausência ampliou o fosso social -; agora recorre ao cinismo para justificar o voto que promete dar no Senado pelo impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff.

O senador Cristovam Buarque retoma assim, com ato, mais do que com a palavra, uma retórica filosófica que estava em desuso para dar sua contribuição na construção de uma ponte para o atraso que tem em Michel Temer e seu “masculinistério” os principais arquitetos de uma obra de engenharia que busca substituir, como é recorrente na história política e social brasileira, o plural pelo singular em nome de uma elite rejeitada pelo sufrágio que se deseja universal. E o faz com uma arrogância distante do homem que dizia sonhar com um país melhor, maior e mais inclusivo e que promete deixar de legado um país pior, menor e menos inclusivo. Eis a sua justificativa tão apropriada, filosoficamente, ao cinismo, o movimento que teve início com Antístenes e desapareceu no século V por desacreditar sempre no plural e nos valores sociais, colocando-se acima destes como cínicos e descrentes do homem em sua integridade e totalidade:

O impeachment é uma violência constitucional, não em relação à presidente, é uma violência dentro da Constituição que está sendo necessária para virar a página. Cristovam Buarque

Como o cinismo em sua etimologia está relacionado, no grego, aos cães, os próprios cínicos buscaram justificar a sua corrente de pensamento:

Há quatro razões de por que os “cínicos” são assim chamados. Primeiro por causa da indiferença de seu modo de vida, pois fazem um culto à indiferença e, assim como os cães, comem e fazem amor em público, andam descalços e dormem em barris nas encruzilhadas. A segunda razão é que o cão é um animal sem pudor, e os cínicos fazem um culto á falta de pudor, não como sendo falta de modéstia, mas como sendo superior a ela. A terceira razão é que o cão é um bom guarda e eles guardam os princípios de sua filosofia. A quarta razão é que o cão é um animal exigente que pode distinguir entre os seus amigos e inimigos. Portanto, eles reconhecem como amigos aqueles que são adequados à filosofia, e os recebem gentilmente, enquanto os inaptos são afugentados por ele, como os cães fazem, ladrando contra eles. (Escólio na Retórica de Aristóteles, citado em Dudley 1937, p. 5/Luis E. Navia. Antisthenes of Athens: Setting the World Aright. Greenwood Press; 2001. ISBN 978-0-313-31672-2. p. 99.)

Cristovam Buarque na sua aula de cinismo se coloca, assim, como um cão de guarda dos interesses de uma elite reprovada nas urnas pelo sufrágio universal e também de volta à engenharia onde sonhou seguir carreira na juventude, agora na construção de uma ponte para o atraso.

Mais do que a retórica, são atos que deixamos de legado. Triste legado nos deixará com seus atos o professor Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque.

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