A presidenta Dilma Rousseff recebeu hoje (31) manifestos e notas entregues por artistas e intelectuais que foram ao Palácio do Planalto em apoio ao seu governo. Entre os presentes, estavam atrizes, atores, diretores de teatro, cineastas, cantores e cantoras, pesquisadores e professores universitários. Alguns deles discursaram durante a cerimônia, como a atriz Letícia Sabatella, o rapper Flávio Renegado, a cantora Beth Carvalho e o diretor teatral Aderbal Freire Filho. O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, o artista norte-americano Danny Glover e o cantor Tico Santa Cruz, da banda Detonautas, gravaram mensagens de apoio a Dilma, mostradas em um telão. A presidenta recebeu, de vários artistas, como a atriz Elisa Lucinda, manifestos e notas.
Por Yara Aquino/Repórter da Agência Brasil
Nicolelis, que comanda o Projeto Caminhar de Novo, gravou um vídeo em que defende a continuidade do governo Dilma. Ele lembrou que, na última década, o Brasil começou a apostar na educação, na ciência e na tentativa de promover “uma inclusão social que nunca tinha ocorrido antes”. “O mundo inteiro sabe da tentativa de se remover uma presidenta sem a legitimidade das urnas, mas por meio de um processo que combina múltiplas formas, que se iniciou na noite do anúncio do resultado das urnas”.
Ao final do vídeo, ele manda uma mensagem para a presidenta, pedindo a ela que resista. “Mando uma mensagem para Dilma, de um brasileiro que ama o Brasil, cresceu numa ditadura e viu o país sair das trevas: senhora presidenta, resista, porque a senhora não está sozinha”.
O escritor Raduan Nassar disse que a presidenta não cometeu crime de responsabilidade, portanto, não há legitimidade no pedido de impeachment. “Os que insistem no seu afastamento atropelam a legalidade, subvertendo o Estado Democrático de Direito. Os que tentam promover a saída de Dilma arrogam-se hoje sem qualquer pudor como detentores da ética, mas serão execrados amanhã, não tenho dúvida”, afirmou.
A cineasta Anna Muylaert discursou na cerimônia e disse que veio prestar apoio à presidenta no que classificou de “momento difícil”. “Estou aqui para dizer que o trabalho que foi feito pelo governo Dilma e o governo Lula é de uma inclusão social num nível estrondoso na história. A Europa sabe, reconhece e aqui talvez ainda precise de alguns anos para que a gente entenda o tamanho do que aconteceu e deverá continuar acontecendo”, disse. Ela entregou à presidenta um manifesto do cinema pela democracia.
A atriz Letícia Sabatella falou sobre conquistas sociais do governo Dilma e disse que veio clamar por democracia e dizer que o país vive um momento de polarização e ódio. “Isso fomentado por um plano maquiavélico de tomada de poder na marra”.
O professor doutor Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais, defendeu a democracia e disse que, neste momento, há no país forças políticas rompendo com esse preceito fundamental. “Hoje a democracia está sendo subvertida e desestabilizada. A democracia é a conquista mais importante da nossa geração e nossa obrigação é transmití-la às próximas gerações. Aqueles que na ânsia de ocupar o poder estão tentando suberter os valores da nossa democracia responderão por isso”.
Flávio Renegado enalteceu as vozes da periferia que estavam ali, representadas por ele, dizendo que defendem a permanência de Dilma por entender que o pedido de impeachment, como foi feito, é uma forma de golpe. “Incomoda uma mulher presidente. Incomoda uma voz negra que fala em justiça”, disse em seu discurso.
Danny Glover disse estar solidário ao governo Dilma, “eleito democraticamente”. “Minha mensagem é pela paz, justiça e amizade. É uma mensagem a milhares de brasileiros que lutam pela democracia, ao invés de miná-la”, discursou o ator, em vídeo mostrado no telão. Em português, Glover repetiu o bordão que vem sendo usado pelos defensores da permanência de Dilma: “Não vai ter golpe”.
O evento ocorre pouco mais de uma semana após o ato promovido por juristas, contra oimpeachment, no Planalto. O ato foi batizado de “Pela Legalidade e em Defesa da Democracia” e dele participaram também advogados, promotores e defensores públicos contrários ao processo de impeachment.