As mulheres brasileiras de diversas faixas etárias, de renda, etnia e formação profissional e intelectual decidiram nos últimos dias, fazendo uso da hashtag #belarecatadaedolar, responderem de forma divertida, nas redes sociais, à uma reportagem de um panfleto golpista que insiste em ser tratado como revista de grande circulação. Esse panfleto, nitidamente misógino, prometeu aos seus leitores – de discutível inteligência e capacidade de análise – um mundo novo com a aprovação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e na incapacidade de entregá-lo a jato, decidiu apresentar a mulher do vice-presidente Michel Temer, Marcela Temer, como “Bela, recatada e “do lar””. A resposta veio rápida e ligeira.
O coletivo Jornalistas Livres, que tem praticado justamente o jornalismo que é aquilo que se ausentou das páginas do panfleto que intitula-se revista, fez o que se espera de profissionais que atuam nesse mercado e foi ouvir a opinião de Marcia Tiburi, artista plástica, professora de filosofia e escritora, sobre o já polêmico “Bela, recatada e do lar”.
“O mundo é machista, e o privilégio sobre a reputação é inevitavelmente dos homens. Agora é a vez de especular sobre Marcela Temer, esposa do desbotado vice-presidente do Brasil, que apareceu numa dessas revistas que tentam transformar a falta de assunto em uma grande questão.
Tem uma pergunta bem séria que precisamos responder antes de mais nada: Porque a mulher de Temer aparece agora nesse momento de caos político?. Ora, esse é o momento do golpe de Temer, de Cunha e dos demais políticos contra a presidente Dilma. Todo mundo sabe que isso é uma coisa muito feia, e como o jogo político é também estético, nada melhor que tentar melhorar a imagem do vice-presidente golpista. O que se quer portanto com o perfil que usou os adjetivos “bela, recatada e do lar” como qualificação da esposa de Temer?.”