Por Carlos Franco
Comum na Europa, Estados Unidos e Ásia, o boicote a anunciantes por conta da veiculação de produtos e serviços em veículos de comunicação social em desalinho ou frontalmente contrários à população e/ou setores dela, invadiu com força as redes sociais neste fim de semana e nos primeiros dias desta semana. O SHOPPING CENTER SUL, em João Pessoa, na Paraíba, por exemplo, permitiu que um painel de LED que fica dentro das suas instalações veiculasse campanha pelo golpe na democracia e o impeachment sem justificativa plausível da presidente Dilma Rousseff. Os consumidores deixaram de frequentar o local e fizeram protestos nas redes sociais. Resultado: o shopping pediu desculpas e retirou a campanha do painel (confira aqui).
Esses brasileiros engrossam, assim, movimento dos apaixonados pelo futebol, contrários ao predomínio da TV Globo na exibição dos jogos – e por conta disso, na escalação de horário que seja da sua melhor conveniência e não dos torcedores – ao que se somou, no último carnaval, aos protestos do respeitável público nas redes sociais e até o estranhamento de seus próprios apresentadores, ao vivo, da não transmissão completa dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, também pela TV Globo, sobretudo daquelas agremiações, a exemplo da Vila Isabel, com temática que tratavam da luta dos trabalhadores rurais por terra e igualdade.
Desta vez, porém, quem entrou em campo foram aqueles que defendem a democracia e o Estado Democrático de Direito e lutam, hoje, nas ruas e com a arma que têm, a palavra, contra uma verdadeira caçada que a emissora, a TV Globo, têm empreendido ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao seu partido, o PT, deixando de lado o jornalismo para se tornar um panfleto na defesa de um golpe no resultado das últimas eleições presidenciais, fomentando e nitidamente apoiando qualquer manifestação contrária ao governo federal, quando não as convocando repetidas vezes com chamadas ao vivo.
A emissora conta para a empreitada com o suporte de setores do Poder Judiciário que atropelam os ritos do Judiciário e esgarçam e entram em desalinho com o Estado Democrático de Direito, ainda que com a complacência da Procuradoria-Geral da República, a qual estão subordinados e que tem, no exemplo bíblico de Pôncio Pilatos, lavado as mãos para essa verdadeira agressão ao que se espera da Justiça: equilíbrio e imparcialidade nos seus atos e nos seus ritos, sem pré-julgamentos de qualquer natureza. Mas populares como a senhora que aparece na foto não esquecem os compromissos dos meios de comunicação com as elites e a forma como manipulam com este objetivo o seu noticiário e, assim, influenciam o Judiciário, sobretudo desses seus integrantes que preferem as luzes dos holofotes à Justiça a qual antagonicamente um dia juraram fidelidade. Essa senhora com seu cartaz roto é um exemplo de tenacidade e uma clara lembrança de que a história nunca se apaga e o panteão dos traidores da Pátria sempre está a espera de outro nome e hoje, togados ou não, estes se oferecem em enorme profusão.
Nesse afã pelos holofotes da emissora, integrantes do Poder Judiciário atentam inclusive contra a Segurança Nacional e até ao respeito à privacidade essencial na relação advogado-cliente. Em troca dos holofotes da emissora e em defesa da tese que busca sustentar a qualquer preço, vale tudo; inclusive o descarte do jornalismo, com seus apresentadores assumindo a postura de editorialistas e não escondendo mais, quando ao vivo, o descontentamento quando a fonte da notícia entra em desacordo com a tese que querem defender a qualquer custo. Alguns e algumas inclusive já tratam a presidenta da República como ex-presidente num total desrespeito à instituição máxima do Poder Executivo que é a Presidência da República. A reação tem sido a de pequenos cartazes que surgem a todo instante em manifestações ou nas chamadas ao vivo da emissora.
Para comprovar a parcialidade da emissora nos temas políticos, inúmeros internautas têm recorrido à entrevistas do ex-todo poderoso diretor-geral da TV Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho nas quais admitiu a edição e a manipulação do debate na eleição presidencial de 1989, quando se confrontaram, em segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, para favorecer o segundo, que acabaria vencendo o pleito. A diferença, no entanto, é que naquele tempo a emissora, a TV Globo, era soberana, soberania esta que vem perdendo nos últimos anos em diversas grades de horário.
Resultado: inúmeras pessoas iniciaram neste último fim de semana uma convocação para o boicote de anunciantes da emissora, especialmente os que patrocinam o Jornal Nacional. Se vivo estivesse, João do Rio, que sempre manteve o olhar para a Europa na virada do século 19 para o 20, quando obras buscavam tornar o Rio de Janeiro a Paris Tropical, e acabou por consagrar a expressão “o Rio civiliza-se”, diria que ao propagar o boicote a anunciantes, o Brasil civiliza-se, segue o modelo que tem obtido resultado em países mais ricos e de civilizações mais antigas.
No entanto, para que o boicote de fato atinja em cheio às empresas, torna-se necessário um árduo trabalho de seus proponentes. É preciso que, paralelamente, ao boicote, façam o que fazem associações que os propõem na Europa, Estados Unidos e Ásia: levantem os esqueletos das empresas anunciantes, de forma que o boicote ganhe mais fôlego e conquiste, de fato, engajamento. É nesses momentos que ganham repercussão, sobretudo na Europa, atos discriminatórios de gênero, raça, religião e o mais aviltante deles: o uso de mão de obra escrava por parte de empresas, sobretudo quando anunciantes em veículos que atentam contra direitos da população, inclusive e sobretudo a informação idônea, uma vez que são concessões públicas com esta finalidade.
É clássico o caso da poderosa Nike que, na década de 1980, se retirou de cena, na publicidade e propaganda, para refazer a imagem depois de inúmeras e comprovadas denúncias de uso de mão de obra escrava. A Nike refez sua rede de fornecedores e buscou, paralelamente, o engajamento de setores excluídos, tornando-se marca identitária deles, como o hip-hop e o novo empoderamento dos negros norte-americanos, para, só depois, voltar à mídia. Mostrar e investir novamente para voltar a ser a marca desejada, posição que ocupava antes do boicote por conta do uso de mão de obra escrava.
As listas para o boicote estão correndo soltas e se os seus proponentes o levarem a sério e buscarem os “esqueletos”desses anunciantes, de fato teremos uma situação de crise para muitas dessas empresas, algumas das quais figurando na lista dos maiores sonegadores fiscais do país. E tal qual Fênix, não será apenas a política que renascerá em outro patamar, mas também as empresas, sobretudo aquelas que têm preocupação imagem e reputação conquistada inclusive com o investimento publicitário, as que não têm continuarão anunciando em veículos que também não possuem mais credibilidade. Nos furtaremos, aqui, de comentar a capa da revista Istoé que chegou às bancas no último fim de semana e o seu teor misógino, pois seria descer por demais num texto que tem por objetivo apenas analisar uma proposta de boicote que começa a tomar corpo e, com ela, resgatar a famosa frase de João do Rio num patamar mais elevado: o Brasil civiliza-se. O lixo, esperamos e se não for tóxico, que seja reciclado.
DIÁRIO DO GOLPE: BOICOTE A ANUNCIANTES. O BRASIL CIVILIZA-SE!
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