Por Mauro Santayana*
Como as matrioshkas, as famosas bonequinhas coloridas russas, o Brasil, país com uma boa parcela da elite de perene vocação udenista, sempre esconde um golpe dentro do outro, e entre os diferentes grupos de golpistas, encontram-se, naturalmente, além dos mentirosos, dos traidores, dos enganadores, dos “jurídicos”, dos manipuladores e dos sem caráter, os loucos.
Execrado, por suas declarações, pelas vivandeiras de plantão, nos comentários dos portais e das redes sociais, o General Eduardo Villas Bôas, Comandante do Exército, deu mais uma vez um “chega pra lá” nos desequilibrados que pedem uma “intervenção militar”, com uma entrevista exemplarmente legalista ao “Estado de São Paulo”.
Para o Comandante Villas, quem exige a volta dos militares ao poder, invadindo o plenário da Câmara dos Deputados é “tresloucado” ou “maluco”, e os militares, que estariam escaldados e imbuídos de sua responsabilidade constitucional, teriam “aprendido a lição” com relação a não meter-se na seara política, após sua longa experiência com o regime militar.
Uma coisa são os oficiais da reserva, que criticam a “democracia” e a situação atual, na maioria das vezes, dentro dos limites da lei.
Outra, os fascistas civis, hipócritas e extremistas que chegam a ser mais radicais do que eles, escudando-se, como sempre, nas forças armadas, para tirar suas castanhas do fogo, como fizeram em 1954 e 1964.
E outra, ainda mais diferente, a situação dos militares da ativa, que, dentro de uma perspectiva sobretudo nacionalista, tiveram a oportunidade de conviver com governos de diferentes tendências no comando da Nação, nos últimos 20 anos.
Embora observando, como qualquer outro cidadão, o panorama político, eles parecem estar muito mais preocupados com suas aposentadorias e pensões e com o futuro dos grandes programas e projetos de material de defesa iniciados nos governos Lula e Dilma, como os tanques Guarani, o Sistema Astros 2020, o KC-390, os caças Gripen NG-BR e o submarino nuclear da Marinha – em um governo que pretende paralisar estrategicamente a Nação por 20 anos – do que em transformar o Brasil em um Líbano ou em uma Síria, e assumir o pepino ingovernável em que se transformou a República, com a quebra da normalidade institucional e da independência entre os poderes, que está sendo promovida, principalmente no âmbito do Judiciário, neste ano.
*Mauro Santayana é gaúcho, jornalista com passagens pelos principais veículos de comunicação do Brasil. Conselheiro e amigo de Tancredo Neves, foi o responsável pela articulação da campanha presidencial do então governador mineiro, em 1984, representando-o em São Paulo, o que contribuiu, em muito, para o processo de redemocratização do Brasil. Siga o jornalista no Jornal do Brasil ou em seu blog.