Por Marcelo Teixeira*
O programa “Roda Viva”, da TV Cultura, levou ao ar, na última segunda-feira, 14, uma entrevista com Michel Temer, atualmente ocupando a vaga de presidente da República. Foi, como o próprio Temer acentuou, em vídeo caseiro feito depois da gravação do programa, uma “propaganda” e tanto, pela qual ele agradeceu.
Muitos colegas de profissão se apressaram em dizer que o referido programa – em que jornalistas cooptados só fizeram perguntas parciais, amenas ou supérfluas – decretava o fim do jornalismo. Uma espécie de pá de cal na imparcialidade, na lucidez e na objetividade.
A roda do programa “Roda Viva” está agonizando. Não gira mais. Ou melhor, até gira, mas sem sair do lugar. Em idêntica situação, encontra-se a roda de inúmeros veículos de comunicação que, com seus noticiários, editoriais e profissionais vendidos, assemelham-se a náufragos agarrados a pedaços ainda não afundados de um navio. Comportam-se como se estivessem no convés, mas a água já está batendo no queixo de cada um. Mesmo assim, a orquestra ainda toca, como a do transatlântico Titanic, que foi a pique em 1912. Rodas agonizantes em seus estertores ilusórios. Pensam que tudo permanece como antes, mas a água os vai cobrindo, cobrindo… Afundarão falando sozinhos.
O jornalismo não está no fim. Nunca terá fim. O que está acabando, parando de girar, é o jornalismo corporativo, em que apresentadores anódinos e repórteres crias da casa fazem somente o que o patrão manda. O direito à informação, garantido pela nossa Constituição, está deixando de ser manipulado pelos detentores dos grandes veículos de comunicação e torna-se cada vez mais democrático, amplo e irrestrito. Que o digam os blogs, sites de notícias e afins.
É por aí que a roda permanecerá viva, girando, girando e nos levando a singrar mares nunca dantes navegados.
Decerto não serão águas plácidas que encontraremos. Estejamos preparados para turbulências, tormentas e borrascas. Afinal, tudo que nos faz amadurecer nos chacoalha, já perceberam? Mas tudo isso está fazendo com que melhoremos como cidadãos e seres pensantes. Bem melhor que o jornalismo zona de conforto com o qual estávamos acostumados.
Preparar para zarpar!
*Marcelo Teixeira é publicitário e jornalista
DIÁRIO DO GOLPE: RODAS VIVAS E RODAS AGONIZANTES
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