Os estilistas siciliano Domenico Dolce e vêneto Stefano Gabbana, que juntos construíram a grife italiana Dolce & Gabbana, sempre guardam surpresas na manga, o que é natural no mundo da moda em que habitam e é assim que surpreendem os fashionistas de plantão. Não seria diferente com a campanha Spring/Summer Children’s, para menores, deste ano de 2015. Eles recorrem à luminosidade e as mulheres tão típicas da Sicília para apresentarem as cores e os ritmos fortes do flamengo espanhol, com seus tons vermelhos, florais, poás, babados e muita, muita renda. Estão como crianças em meio a crianças, como se voltassem no tempo para empreenderem nova jornada no mundo da moda, trazendo o clima apresentado no final do ano passado em Milão para as coleções feminina e masculina para o universo infantil.
POR YUME IKEDA, DE TOKIO
E se Dolce & Gabanna, que encerraram a grife D&G em 2011 (portanto se encontrar essa sigla em produtos, é sempre bom saber que pertencem ao passado ou à pirataria desinformada que ainda os reproduz em réplicas tardias do que os estilistas deram por encerrado e ainda lhes dá dor de cabeça fiscal), sempre surpreendem, agora não seria diferente.
Na coleção que começaram a apresentar em campanha publicitária neste início de ano, Dolce & Gabanna usam muitas rendas. E é de renda hoje o que mais precisam. A dupla que sempre ocupou lugar de destaque nos editoriais de moda, desde 2014, com muita intensidade, conquistou um espaço indesejado nos editoriais de economia por sonegação fiscal e até ameaça de prisão na Itália.
Só que Dolce & Gabbana são mais fortes que o fisco, que todos sabemos está sempre faminto em todo e qualquer país. Eles negociam e renegociam as pendências e usam rendas para fazer renda. E num momento de luminosidade, que a Sicília empresta, trazem o ritmo forte da tragédia que habita o sangue espanhol para literalmente rodarem, como se diria no Brasil, a baiana. Assim, dão a volta por cima.
Dolce & Gabbana construíram carreira sólida nas passarelas e no universo da moda. Emprestam a grife inclusive para outros produtos, como o sorvete Magnum que a Unilever acaba de lançar e que chega ao Brasil neste verão, antes mesmo do verão europeu e do Hemisfério Norte que começa em junho. Têm poder e prestígio. São admirados e, cá entre nós, o pessoal da moda, como a cantora brasileira Valeska Poposuda, dá de ombros – literalmente beijinho no ombro – do noticiário econômico. São notícias sempre apocalípticas, não importa o país, como se o mundo fosse acabar amanhã.
O pessoal da moda e do chamado lifestyle quer sempre viver, experimentar o novo e o vive hoje, como de resto todos os habitantes do planeta ainda que sejam, de alguma forma, impactados pela economia. Mas não vão deixar nunca de viver, amar, comer e vestir. Essas conversas chatas sobre déficits e superávits de tesouro ou fiscal só interessam mesmo a quem vive da especulação financeira, que ganha com previsões, as suas realizações ou não, os vendidos e comprados do mercado financeiro internacional.
A vida e a moda seguem em frente. Pode parecer algo meio Maria Antonieta na célebre frase atribuída a ela – se não tem pão comam brioches – que historiados contemporâneos colocam em xeque. Mas é isso mesmo o que fazemos no dia a dia, no exercício diário da resiliência: se não temos café, podemos tomar chá, e se não temos café e chá, podemos tomar água, por enquanto. Só não vamos mesmo é deixar de viver.
Dolce & Gabbana dão uma lição de savoir faire, o saber viver, de preferência à luz do sol, na luminosidade, sem as penumbras do mundo econômico, nebuloso, escuro e por onde desfilam diariamente incautos políticos e incautos analistas que não sabem viver, sem nenhum savoir faire e, é claro, sem nenhuma elegância, interessados que estão apenas no ganhar fácil do dinheiro e do poder, muitas vezes fruto da desgraça alheia e da maioria dos que os rodeiam e pelos os quais têm enorme desprezo, pois para estes incautos pessoas são apenas números.
Dolce & Gabanna para menores é uma saudação luminosa ao futuro, existe vida na nova coleção e no novo filme da dupla.