POR MARC TAWIL
Hoje morreu um gigante. Daqueles que, só de sabermos que ele está por perto, ficamos irrequietos, nos arrepiamos. Morreu Ben Abraham. Jornalista, escritor e incansável ativista da causa judaica, Abraham, que nasceu Henry Nekrycz em Lodz, Polônia, em 11 de dezembro de 1924, conheceu ainda jovem o horror provocado pelo nazismo na Europa. Passou pelos campos de Brauschweig, Watenstadt e Ravensbruck entre 1943 e 1945, e, por fim, Auschwitz, onde dentre mais de 100 familiares, apenas um primo e ele sobreviveram.
Foi libertado em 1º de maio de 1945, pesando menos de 30 quilos, com tuberculose nos dois pulmões e doente. Antes, durante o sofrimento, fez a si mesmo uma promessa: se escapasse, jamais se calaria diante da intolerância e da barbárie. E assim foi.
Em 21 de Janeiro de 1955, Abraham se estabeleceu no Brasil. No ano seguinte, se casou com Miriam Dvora Bryk, e aqui constituiu família. Escreveu 15 livros sobre o tema e dezenas de artigos. Debateu com revisionistas, falou a jovens em universidades e congressos do mundo todo, foi homenageado, homenageou e passou seus ensinamentos a crianças e adolescentes em escolas judaicas. Quem é judeu, mora em São Paulo, e tem a minha idade, 41 anos, cresceu vendo e ouvindo Ben Abraham, o grande.
Em 1989, com 16 anos, lá estava eu no saudoso Colégio Renascença do bairro do Bom Retiro a assisti-lo. E lá estava ele a relatar os dramas que viveu nos campos de concentração. Dizia ele: “Foram as piores atrocidades cometidas pelo homem contra o próprio homem”. Naquela manhã, tive a honra de receber um livro dele, E o Mundo Silenciou, em sala de aula, por “ter feito boas perguntas” na palestra. Encerrou o bate-papo dizendo que publicava seus livros para que “as tragédias jamais se repetissem”. Missão cumprida, Ben Abraham, e com louvor.
Muito mais tarde, no ano passado, fui agraciado por poder entrevistá-lo, a convite de sua filha e companheira de uma vida, Edith Nekrycz Wertzner, na Congregação Israelita Paulista, em São Paulo, perante dezenas de sobreviventes do Holocausto e a minha família. Tarde inesquecível.
Nos despedimos com um beijo afetuoso. Ben Abraham é meu herói (e de muitos) não apenas por sobreviver à barbárie, mas por lutar digna e incansavelmente para evitar que ela se repita. Dia após dia, ano após ano, até sua partida, aos 91 anos. Dizem que, no judaísmo, mantemos a alma viva daqueles que amamos quando perpetuamos seus valores e ideais. Farei isso por você, Ben. Vou sentir demais a sua falta. Do seu aprendiz,
Marc Tawil