Maior festival de música experimental da América do Sul traz pela primeira vez à programação mostra de cinema com seis filmes que discutem a criação exploratória da arte sonora e as suas relações com outras artes
O Festival Novas Frequências, principal evento internacional de música experimental e exploratória da América do Sul, que acontece entre 1º a 08 de dezembro no Rio de Janeiro, chega à sua 5ª edição com uma programação que inclui, pela primeira vez, uma mostra de cinema. O local para exibição dos filmes será o estúdio Audio Rebel, em Botafogo, todos os dias às 16h, e a programação conta com seis longas-metragens independentes, lançados recentemente e que têm como tema a arte sonora. A maioria ganha sua primeira exibição no Brasil por meio do festival.
Entre os filmes, destaque para “Um Ouvido por um Olho”, de 2015, série especial desenvolvida para a NetRadio austríaca Kunstradio, uma das mais prestigiadas do mundo, dirigida pela brasileira Lilian Zaremba, que questiona as relações entre as impressões visuais e sonoras, e convida artistas de diferentes mídias para criarem exercícios do que seria uma “rádio visual”, ou seja, demonstrarem as experiências visuais de um som, já que é possível, por exemplo, identificar um grito mudo pela expressão da imagem. Neste sentido, a obra apresenta trabalhos de Lenora de Barros, Vivian Caccuri, Alex Hamburguer, Julio de Paula, Cadu Tenório, Marco Scarassatti, DEDO, Thelmo Cristovam e da própria Lilian. Este filme será o primeiro a ser exibido na mostra, no dia 1º, terça-feira, às 16h.
Outro destaque é o “Brazil 84”, parte da série “The Movement of People”, de 2014, do artista americano multidisciplinar Phill Niblock, com imagens em 16 mm que trazem longos takes sem edição de pessoas em seus ambientes de trabalho, rurais e urbanos. Os movimentos dos personagens mais se parecem com uma coreografia por conta da relação com a música de Niblock. O filme será exibido no dia 04, sexta, às 16h.
Outros filmes são: “Phantom Nebula” (Japão, 2014), de Makino Takashi; “Learning to Listen” (Reino Unido, 2014), de Dan Linn-Pearl, Marianna Roe & Andi Spowart; “What We Leave Behind – Jean-Luc Godard Archives” (França, 2015), de Soundwalk Collective; e “Taking the dog for a walk” (Luxemburgo e Reino Unido, 2014), de Antoine Prum. Confira a programação completa com datas e horários abaixo.
O festival Novas Frequências é fruto da parceria entre os produtores culturais Chico Dub e Tathiana Lopes, e surgiu em 2011 sempre à procura de artistas que rompem com fronteiras préestabelecidas em busca de novas linguagens sonoras. Considerado o Melhor Festival do Rio de acordo com o Prêmio Noite Rio 2013, o festival só realiza apresentações inéditas no país. No caso dos artistas nacionais, a curadoria prima por apresentações que nunca ocorreram antes no Rio – seja trazendo artistas de outros estados que ainda não tocaram na cidade ou propondo performances comissionadas de artistas residentes. Além da mostra, o festival conta com shows, performances resultantes de residências artísticas, festa, palestras, discussões, oficinas e, também estreante, exposição de arte e hacklab. Programação completa do festival: www.novasfrequencias.com
Programação completa da mostra:
1º de dezembro, terça-feira, 16h
“Um Ouvido Por Um Olho” (2015 – 75 minutos), de Lilian Zaremba
Com trabalhos de: Lenora de Barros, Vivian Caccuri, Alex Hamburger, Julio de Paula, Cadu Tenório, Marco Scarassatti, DEDO, Thelmo Cristovam e Lilian Zaremba
Sinopse: “Até que ponto a imagem é uma transmissão radiofônica e até que ponto as impressões visuais são como parte de uma impressão sonora que as englobam? Se a música leva a mapas visuais e os ouvidos podem ver, rugir, ao captarem o grito mudo das imagens, o que é exatamente o cinema, e o que é o rádio? Essas são questões essenciais numa época em que a transmissão de mídia foi massificada, globalizada, praticamente universalizada, em velocidade nauseante”. Em “Um Ouvido Por Um Olho”, série especial desenvolvida para a netradio austríaca Kunstradio, uma das mais prestigiadas do mundo, Lilian Zaremba convidou artistas de diferentes mídias para criarem exercícios do que seria uma “rádio visual”.
02 de dezembro, quarta-feira, 16h
“Phantom Nebula” (2014 – 52 minutos), de Makino Takashi
Sinopse: A experiência de assistir à obra de Makino Takashi talvez seja mais bem expressada pelo título de um de seus filmes: “Still in Cosmos”. O cineasta tenta criar um estado de frenesi através da múltipla exposição e da superimposição, mas acaba imperando uma noção de que o caos abstrato existe sempre dentro de um tipo de ordem transcendental. Formado em cinema pela Nihon University of Art, Takashi se muda para Londres para se dedicar ao estudo das técnicas de cinema musical, fotografia e luz. Ele passa a produzir seus filmes depois de retornar ao Japão em 2004, influenciado por Jim O’Rourke, com quem teve contato na mesma época. Desde então, Takashi passou a desafiar a produção cinematográfica tradicional, se utilizando de transfers digitais, edição de taxas de quadros por segundo e sobreposição de camadas visuais e sonoras para o limite da tecnologia digital e do cinema e da música abstratos.
“Phantom Nebula” é, segundo a San Francisco Cinematheque, “um duelo entre a dominação imaculada do digital e a orgânica irregularidade do material se dissolvendo em múltiplas facetas de caos, massas gasosas intercambiáveis sem forma definida”.
03 de dezembro, quinta-feira, 16h
“Learning to Listen” (2014 – 60 minutos), de Dan Linn-Pearl, Marianna Roe & Andi Spowart
Sinopse: documentário produzido pela Deaf Pictures que cruza as linhas divisórias entre a música experimental e a arte sonora. O filme apresenta uma série de depoimentos de artistas importantes sobre seu trabalho em relação a pensamento e processo criativo ao mesmo tempo em que explora cenas de performance, improvisação, tecnologia e arte sonora.
O projeto usa táticas de filmagem de guerrilha com equipamentos básicos a disposição, o que tornou o processo, em última instância, mais simples e refinado. Narrativas históricas são exploradas, bem como são apresentadas novas obras, novas visões, conceitos e compreensões sobre as ferramentas de criação sonora. “Learning to listen” espera brindar uma nova audiência com informações sobre técnicas de composição experimentais e não-comerciais, ao mesmo tempo que deve apelar à sensibilidade de músicos já praticantes e profissionais intimamente ligados ao ramo.
04 de dezembro, sexta-feira, 16h
“Brazil 84” (2014 – 77 minutos), filme e música de Phill Niblock
Sinopse: parte da série do artista multidiciplinar Phill Niblock “The Movement of People Working”. São imagens em 16mm que trazem longos takes sem edição cuidadosamente moldados para comprimir movimentos individuais. As imagens são filmadas em ambientes rurais e urbanos, capturando as pessoas em seus ambientes de trabalho, homens e mulheres usando as mãos e o corpo para uma coreografia de trabalho eterna que parece sintonizada com o universo da música microtonal de Niblock.
Originalmente em silêncio, Niblock escolheu adicionar sua própria música como trilha sonora, o que ele normalmente faz simultaneamente a exibições públicas do filme. As imagens são cruas, as cores são saturadas e a trilha parece um fenômeno psíquico que transborda a cada cena.
07 de dezembro, segunda-feira, 16h
“What We Leave Behind – Jean-Luc Godard Archives” (2015 – 44 minutos), de Soundwalk Collective
Sinopse: é uma peça sonora composta somente por material inédito de fragmentos de som que foram gravados nos sets dos filmes de Jean-Luc Godard, mas que acabaram nunca sendo publicados. A composição de sons, redescoberta por acidente em algum lugar da França, nos mostra um arquivo audiovisual muito real (no sentido de autêntico, sincero) e de certa forma esquecido pelo diretor.
“What We Leave Behind” é um retrato do cinema contemporâneo e uma reflexão sobre o arquivo como ideia corrente no pensamento filosófico e artístico. A intenção da peça é demonstrar o poder do arquivo: guardar uma constelação de memórias e identidades, histórias, narrativas. Direções de palco, a atmosfera dos sets de gravação, falsos começos, novas tomadas e todos esses detalhes de cada momento que geralmente passam imperceptíveis, mas são, em última instância, o que nós deixamos de legado para a eternidade.
08 de dezembro, terça-feira 16h
“Taking the dog for a walk” (2014 – 128 minutos), de Antoine Prum
Sinopse: Apresenta um mapa da cena musical de improvisação livre na Grã Bretanha, tanto do passado quanto do presente. O documentário alterna sequências musicais extensas a conversações lideradas que gravitam em torno das idiossincrasias da improvisação.
Produzido por Paul Thiltges e Antoine Prum para a NI-VU-NI-CONNU Productions, o filme estreiou em 2014 no East London Film Festival. Inclui entrevistas conduzidas por Stewart Lee e Tony Bevan com Eddie Prévost, Steve Bereford, John Butcher, Alex Ward, Maggie Nicols, Phil Minton e muitos outros. Num trabalho escultural de pesquisa em arquivos de filmagem, “Taking the dog for a walk” analisa a rede de pequenos pontos de encontros e selos que ajudaram a moldar este nicho da cena musical britânica.
Mostra de Cinema – Festival Novas Frequências @ Audio Rebel
De 1º a 08 de dezembro, às 16h
R. Visconde de Silva, 55 – Botafogo, Rio de Janeiro – RJ
Capacidade: 90 lugares
Acesso para deficientes: sim
Estacionamento: não
Classificação: livre
Entrada: R$10,00; a venda somente no local
Tel.: (21) 3435-2692
Site: www.audiorebel.com.br
Novas Frequências
www.facebook.com/novasfrequencias