Foi oficialmente criada ontem, 29, a Comissão Parlamentar de Inquérito que vai investigar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o comitê organizador local da Copa do Mundo Fifa 2014 no Congresso Nacional por sugestão do senador e ex-jogador de futebol Romário (PSB/RJ). Também ontem, o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, deu entrevista coletiva na sede da confederação, no Rio de Janeiro, negando que tivesse conhecimento de propinas nos contratos da CBF. Ele também negou ter assinado algum desses contratos durante a administração do ex-presidente da entidade José Maria Marin, que foi preso pelo FBI na Suíça e responderá a processo, nos Estados Unidos, por corrupção no futebol, podendo pegar até 20 anos de prisão.
POR KARINE MELO/REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL
Foi oficialmente criada ontem, 29, a Comissão Parlamentar de Inquérito que vai investigar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o comitê organizador local da Copa do Mundo Fifa 2014. Segundo a Secretaria-Geral da Mesa do Senado, as 53 assinaturas reunidas pelo senador Romário (PSB-RJ) foram mantidas. Os parlamentares tiveram até meia-noite para retirar ou acrescentar assinaturas ao pedido. O início dos trabalhos, no entanto, ainda leva alguns dias. Respeitando a proporcionalidade das bancadas e dos partidos no Senado, os líderes partidários terão cinco dias para indicar os parlamentares que integrarão o colegiado e só depois disso é marcada uma reunião de instalação da comissão. Nela, serão eleitos presidente, vice-presidente e relator da CPI.
A CPI da CBF será a sexta em funcionamento no Senado, terá sete membros titulares e 180 dias para investigar possíveis irregularidades em contratos feitos para a realização de partidas da Seleção Brasileira de futebol, de campeonatos organizados pela CBF, assim como para a realização da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo de 2014.
Apesar de estar cumprindo compromissos em Brasília, o senador Romário não foi encontrado para comentar o assunto até a publicação desta reportagem. Ontem, 28, o senador que é ex-jogador de futebol, falou na tribuna sobre as expectativas em relação ao trabalho da comissão. “Acredito que, com essa possibilidade dessa CPI nesta Casa, a gente possa realmente fazer um trabalho sério, corajoso e honesto, e que o resultado seja um só: que definitivamente o futebol brasileiro seja moralizado. Na verdade, dois resultados: que todos aqueles que praticaram crime durante esses anos todos e se enriqueceram ilicitamente paguem pelos seus crimes, principalmente sendo presos”.
Romário disse ainda que esse é o momento oportuno para uma devassa na CBF. Ele acrescentou ainda que as investigações do FBI apontam indícios de que parte das propinas pagas pelo ex-presidente da CBF José Maria Marin foram compartilhadas por outro ex-presidente da entidade Ricardo Teixeira e pelo atual presidente, Marco Polo Del Nero.
O pedido de criação da CPI foi apresentado por Romário depois que Marin e outros seis dirigentes da Fifa foram detidos na última quarta-feira, 27, pelo serviço de inteligência norte-americano (FBI) e pela polícia suíça em Zurique por suspeita de corrupção. Entre outras irregularidades, Marin teria recebido propina em um esquema de corrupção envolvendo a organização da Copa América.
DEL NERO SE DEFENDE
POR CRISTINA ÍNDIO DO BRASIL/REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, negou ontem, 29, em entrevista coletiva na sede da confederação, no Rio de Janeiro, que tivesse conhecimento de propinas nos contratos da CBF. Ele também negou ter assinado algum desses contratos durante a administração do ex-presidente da entidade José Maria Marin.
“Nenhuma participação, nenhum contrato eu assinei na administração do presidente José Maria Marin”, garantiu Del Nero, completando que a função dele, como vice-presidente da CBF, enquanto Marin estava no comando da entidade, era seguir as orientações da presidência.
O dirigente informou que os contratos vão ser analisados, mas disse que de antemão não se pode afirmar que os documentos não estejam corretos e, por isso, precisam ser revistos: “A conclusão à que a diretoria chegou é a seguinte e eu apoio: nós temos que analisar todos os contratos”.
O presidente acrescentou que a entidade atravessa um momento difícil por causa do envolvimento de José Maria Marin nas acusações de recebimento de propinas em contratos da CBF. Marin foi preso na Suíça, na última quarta-feira (27), antes do Congresso da Federação Internacional de Futebol (Fifa), que hoje (29) reelegeu o Joseph Blatter para o quinto mandato seguido de quatro anos na presidência da entidade.
De acordo com Del Nero, esse foi o motivo que o fez voltar de Zurique, na Suíça, onde participava da reunião da Fifa. “Para poder informar de forma positiva e correta e dar as explicações necessárias não só às autoridades como também à imprensa do nosso Brasil”, completou.
Del Nero não acredita que a saída antecipada da reunião em Zurique tenha prejudicado a imagem do futebol brasileiro e da CBF. “Eu conversei com o presidente da Conmebol [Confederação Sul-Americana de Futebol] e informei a necessidade de retornar ao país para dar uma satisfação e para comandar as explicações necessárias, seja no Ministério da Justiça, na Polícia Federal ou na Procuradoria Federal.”
O dirigente disse que, apesar de ser amigo de Marin, tem que tomar providências para esclarecer os fatos. “É triste, a gente presta solidariedade ao ser humano, ao amigo, mas, como presidente da Confederação Brasileira de Futebol, tenho que tomar as providências necessárias. Não tem como deixar de fazer alguma coisa, apenas por ser amigo. Fico muito chateado, perplexo com tudo que aconteceu, mas temos que exercer a função. A função [de presidente]vai ser exercida na melhor forma possível em favor da Confederação Brasileira de Futebol”, disse Del Nero, acrescentando que não tinha conhecimento da existência de propinas nos contratos.
O presidente da CBF descartou ainda a possibilidade de ser o suspeito, sem nome identificado, apontado nos documentos divulgados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos do recebimento de propinas com Marin. “Eu não sou, porque não recebi nada nem receberia. Não sei [quem seria]. Tem que perguntar para o investigador”, afirmou o presidente da CBF.
Del Nero contou que ficou sabendo da prisão do ex-presidente por uma ligação telefônica. Em seguida, reuniu-se com a presidência da Conmebol, que constituiu advogado para defender Marin, porque naquele momento ele também era representante da entidade sul-americana. Quanto à retirada do nome de Marin da fachada da sede da CBF, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, ele explicou que foi em decorrência da decisão da Fifa.
“Em face de uma determinação da Fifa de banimento dele por 90 dias, a presidência, ad referendum da Diretoria-Geral, resolveu tirar o nome dele”, revelou. O nome do dirigente foi retirado da fachada da sede, mas no interior do prédio permanece em uma placa com a composição da diretoria, tendo na presidência Marin.
Antes de sair de Zurique, Del Nero orientou a delegação brasileira sobre como votar na eleição para a presidência da Fifa. Com relação aos documentos apresentados às autoridades brasileiras para as investigações sobre a CBF, explicou que a decisão foi tomada em uma reunião de diretoria. “Tudo está registrado. Foram entregues ao procurador-chefe do Ministério Público do Rio de Janeiro e ao ministro da Justiça todos os contratos pertinentes para que eles possam analisar e nós estamos aptos a praticar e a responder tudo que for pedido”, disse.
Para o dirigente, as acusações feitas pelo senador Romário (PSB-RJ) de que ele deveria ser o primeiro investigado por uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar os contratos da CBF não representam novidade.
“Com relação ao senador Romário posso informar que não é de hoje que ele me ataca, mas toda vez que ele me ataca eu vou ao Poder Judiciário e tomo as providências. Algumas delas, ou pelo menos em uma delas, ele já foi condenado. Vou continuar processando. Sempre que ele me ofender, eu o processarei”, declarou Del Nero, que disse apoiar uma CPI do Senado para investigar a CBF.