A mesa foi sobre poesia mas desaguou em música, como não poderia deixar de ser. O encontro entre os poetas e músicos Arnaldo Antunes e Karina Buhr fechou o sábado na Tenda dos autores em grande estilo, preenchendo com ritmos e estilos – construtivista de um, extravasado de outro – o palco da Flip.
Arnaldo falou de seu último livro Agora aqui ninguém precisa de si – já no título um poema. Ausência, vazio e introspecção atravessam boa parte do volume. Ao lado de Arnaldo, Karina Buhr cantou poemas de seu livro Desperdiçando Rima, e falou sobre a dificuldade em dissociar o que vem à mente como música e o que vem como verso.
“Uma coisa que eu fiquei feliz é ver que a mesa aqui é cadeira”, disse a cantora, compositora, poeta e desenhista pernambucana, levando à plateia ao riso. “Toda rotina, escola, universidade, escola, prêmio; tudo isso a gente inventou e segue todo dia senão a gente endoida.” Descontraindo o debate, tocou pandeiro, falou de feminismo, leu trecho de texto do autor homenageado da Flip, Mário de Andrade, sobre ameaças à cultura popular. “Parece que foi escrito hoje.”
Num dos momentos mais tocantes da noite, Arnaldo cantou “Socorro” (poema de Alice Ruiz), sendo acompanhado em coro pela plateia. “A gente vive num mundo que ao mesmo incentiva a onipotência e ao mesmo tempo oprime muito pela quantidade de compromissos e obrigações”, disse, lembrando que a poesia funciona justamente como um drible ao cotidiano. Voltando de um período sabático que incluiu uma temporada na Índia, o poeta e compositor privilegiou o equilíbrio: “Os ocidentais privilegiam mais o que e os orientais privilegiam mais o como. A gente tem que saber juntar os dois.”
Reprodução de texto e foto do Blog da Flip