De acordo com a pesquisadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Cristiane Costa, o mecanismo oferece autonomia aos autores que estão à margem do mercado editorial, porém, exige muito mais dedicação.
O autor escrevia um livro, mandava para a editora, se conseguisse publicar, esperava as críticas, e o livro vendia ou não. Hoje em dia, ele tem que participar dos eventos literários, tem que estar num blog, nas redes sociais – tem que aparecer. Com a autopublicação, o autor ganha a possibilidade de trabalhar de forma independente das editoras, usando plataformas digitais, e todo mundo pode consultar. Mas esse tidpo de atuação é mais trabalhoso, porque o autoprodutor tem que ser responsável pela capa, revisão e por toda a estratégia de marketing.
A escritora Vanessa Bosso contou sua trajetória. Ela disse que começou a carreira de escritora pagando para editar seus livros e optou pela autopublicação digital depois de não alcançar vendas satisfatórias. No quinto livro lançado, que já era esperado pelo público dela, alcançou o topo do ranking da Amazon internacional em três dias. Para ela, a autopublicação é a principal porta de entrada do autor iniciante no mercado editorial.
Segundo Vanessa, há muitos bons autores hoje, que seguem o gênero da literatura internacional, juvenil, e não têm como chegar às editoras. Então, optam pela autopublicação para chamar a atenção das editoras. A escritora disse que o editor fica com medo de apostar, então a autopublicação serve para o autor mostrar número de vendas, de leitores, de reviews, e então conseguir bom contrato com uma editora.
Após o livro A Aposta ter atingido 10 mil downloads, sem contar os arquivos pirateados, e ficar dois anos entre os mais vendidos no gênero infantojuvenil, Vanessa foi procurada por uma editora e vai lançar a obra impressa. De acordo com ela, a estimativa é que cada download gere 20 vendas.
Após o debate, foi lançada a plataforma de autopublicação Bibliomundi, a primeira para autopublicação digital do Brasil. Um dos fundadores da plataforma, Raphael Secchin explica que o mercado de livros digitais está em expansão e apresenta vantagens em relação ao impresso, a começar pelo custo, inexistente em algumas plataformas digitais, já que o autor é remunerado de acordo com as vendas, e não é cobrado nada para disponibilizar o livro na internet.
Secchin disse que a nova geração está toda no processo digital, diferentemente da dele, que só começou a entrar na internet na adolescência. Hoje em dia, porém, as crianças crescem em contato com o computador e acostumadas com o backlight (retroiluminação no monitor), que para os mais velhos dá até dor de cabeça. Ele destacou que isso não é empecilho para as novas gerações que passam o dia no celular e nas mídias sociais. “Nós só estamos entrando numa plataforma que já é muito usada”, acrescentou.
De acordo com ele, existem aproximadamente 40 mil títulos de livros digitais publicados no Brasil, e o faturamento do setor chega a R$ 1,6 milhões, o que não representa 3% do total do mercado editorial brasileiro. Segundo Raphael Secchin, nos Estados Unidos, 30% do mercado editorial já são digitais, e na França a proporção é 6%. Ele estima que, com a autopublicação, o autor receba até 40% do preço de venda, descontando o valor dos impostos, ainda cobrados de livros digitais. Na média, o autor recebe 10% do preço de venda dos livros impressos.