O uso de memórias pessoais e afetivas na literatura foi central na mesa “Amar, verbo transitivo”, que reuniu em Paraty a brasileira Ana Luisa Escorel e a americano-israelense Ayelet Waldman, mediadas pela jornalista Paula Scarpin.
“É preciso gostar e apreciar nossas próprias memórias para reproduzi-las num livro. Mas é perigoso, porque o ato de escrever muda a nossa própria memória”, disse Ayelet Waldman. Autora de Amor e Memória, a autora divertiu a plateia ao contar que ela e o marido, o ganhador do Pulitzer Michael Chabon, vivem disputando os mesmos incidentes familiares. “Brigamos para ver quem de fato fez aquilo que cada um escreveu. Mas acho que precisão, neste caso, é irrelevante. A disputa é para saber qual versão do passado é a mais interessante.”
Em outro momento, Ayelet falou sobre como, depois de um incidente com o filho, tornou-se mais cuidadosa com o compartilhamento de memórias privadas. Ela revelou, em Bad Mother, que o rapaz havia sido amamentado até quase três anos de idade. “Ficou conhecido como o menino do peitinho na escola. Isso acabou com ele. Estou escrevendo outro livro de memórias e tomando muito mais cuidado com eles”, disse.
Igualmente franca, Ana Luisa Escorel emocionou-se ao falar sobre a relação que sempre teve com seus pais, o crítico literário Antonio Candido e a filósofa e ensaísta Gilda de Mello e Souza. Fez questão de salientar que as qualidades humanas de ambos pesou mais em sua educação do que a formação intelectual.
“Na casa onde existe um sol [um autor ou intelectual renomado], não há mulher nem filho que resista. Na minha casa, não tinha sol. Tinha um pai e uma mãe. Apesar de sermos filhas de pessoas raras, eu e minha irmã não fomos destruídas nem enlouquecemos”, ponderou.
Reprodução de texto e foto do Blog da Flip