A ideia da mesa “Música, doce música”, que abriu esta manhã o último dia de conversas da Flip, era falar sobre a maneira como as pesquisas de Mário de Andrade influenciaram o curso da música popular brasileira. Mas uma grande e intensa discussão sobre a bossa nova e a relevância ou não de Tom Jobim dominou o encontro entre o pesquisador musical José Ramos Tinhorão e o compostor e escritor Hermínio Bello de Carvalho.
Tinhorão afirmou que o estilo musical brasileiro, aclamado e reconhecido dentro e fora do país, não passa de “imitação”. “Tenho pena do Tom Jobim. Como pessoa ele era excelente, mas tinha um equívoco fundamental. Achava que compunha música brasileira”, disse Tinhorão.
O pesquisador musical mencionou ainda que uma música de Judy Garland, “Mister monotony” (1948), reproduziria a mesma melodia de “Samba de uma nota só”, de Tom Jobim — posterior à canção da norte-americana. “A bossa nova é ritmo de goteira”, completou.
Interpelado pelo mediador, o jornalista Luiz Fernando Vianna, a fazer uma réplica às falas de Tinhorão, Hermínio Bello de Carvalho partiu em defesa de Tom, “um dos músicos mais modernos da música popular brasileira”, e do estilo. “Eu não acho nada disso que o Tinhorão falou. A bossa nova foi uma invenção pessoal do João Gilberto. A bossa nova é samba, sim. É brasileiro, sim.”
Muito aplaudido, Hermínio disse que, embora muito bem fundamentadas, as falas de Tinhorão borram a “figura do Tom com tintas negras e sangrentas”. “Acho injusto, porque o Tom é um grande compositor, muito reverenciado. Nem vou dizer por mim, mas por um grande parceiro meu, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha. Você não tem de revisar nada, a esta altura da vida, mas tem de reconhecer que exagera [no tom das críticas].”
Na tréplica final, Tinhorão disse que Hermínio reunia “os argumentos do modernosos”, e prosseguiu: “Então não é bossa nova. A bossa nova hoje é uma bossa velha. A única novidade da bossa nova é a batida de violão do João Gilberto.”
Reprodução de texto e foto do Blog da Flip