Cartuns e histórias em quadrinhos deveriam respeitar crenças e ideologias? Até que ponto vai o politicamente correto e os limites do humor? Reunidos no palco da Tenda dos Autores, os cartunistas franceses Plantu e Riad Sattouf e o brasileiro Rafa Campos mostraram seus desenhos e conversaram sobre as dores e delícias do ofício, mediados pelo também cartunista Claudius.
O atentado recente à redação do Charlie Hebdo foi o pano de fundo para diferentes momentos do debate. Presidente da ONG of Cartooning for Peace, Plantu frisou a importância de cartunistas continuarem a se opor ao poder político e religioso, mas sem humilhar as diferentes crenças das pessoas e os direitos humanos. “Temos que pensar sobre a responsabilidade dos nossos desenhos. Tentamos fazer pontes para falar com pessoas que não compreendem necessariamente nossas imagens.”
Autor das tiras de O Árabe do Futuro, Riad contou experiências da infância na Líbia de Muammar al-Gaddafi e do componente familiar e autobiográfico presente em suas histórias. Riad colaborava para o Charlie Hebdo por e-mail e ficou paralisado ao saber dos atentados via Twitter.
Criador do personagem “Deus Essa Gostosa”, Campos defendeu um humor que não agrada a todos, sem se importar com a crítica: “Deus costuma ser branco, velho, casto, autoritário e eu quis fazer um deus que eu achasse legal: mulher, jovem, negra. Gosta muito de pinga, gosta muito de sexo, mais relax”, disse, fazendo questão de frisar que “o Brasil é o Terceiro Reich do índio brasileiro, o Taleban da mulher brasileira, a Ku Klux Klan do negro brasileiro”.
Perguntado se o cartum poderia ser considerado a oitava arte, não oscilou: “É bem melhor do que arte, as pessoas valorizam demais essa palavra”.
Reprodução de reportagem e foto do Blog da Flip