A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) informou que, atualmente, 34 países precisam de assistência externa para suprir as necessidades alimentares de suas populações. A produção agrícola desses países – incluindo 27 nações africanas – foi severamente afetada por secas, enchentes ou conflitos civis.
Segundo o relatório da agência da ONU, divulgado no último dia 9 de março, estiagens associadas ao El Niño terão impacto negativo nas safras de 2016 em países do sul da África, mas também de outras partes do continente, como é o caso da Etiópia. Entre as nações que precisam de apoio internacional estão Djibuti, Chade, República do Congo, Malauí, Mali, Níger, Mauritânia, Burkina Faso, Lesoto, Madagascar, entre outros.
A expectativa é de que períodos de aridez, não necessariamente associados ao El Niño, também afetem o Marrocos e a Argélia.
A FAO destacou que conflitos persistentes no Iraque, na Síria, no Iêmen, no Afeganistão, na Somália e na República Centro-Africana (RCA) estão prejudicando o setor agrícola, agravando as crises humanitárias já existentes nesses territórios. Na maioria dos casos, confrontos acabam tendo desdobramentos para nações vizinhas, como Camarões e República Democrática do Congo, que recebem refugiados da RCA.
A agência da ONU também alertou para a situação da Coreia do Norte, onde uma produção menor afetará a segurança alimentar de famílias que já mantinham níveis extremamente reduzidos de consumo. Na maior parte da Ásia, estima-se que as safras de trigo e outros grãos serão volumosas.
Mulheres são as mais afetadas por escassez de alimentos em todo o mundo
“Mulheres somam 70% das pessoas que passam fome no mundo e são desproporcionalmente afetadas pela malnutrição, embora sejam responsáveis por mais da metade da produção global de comida”, constatou a relatora especial da ONU sobre o direito à alimentação, Hilal Elver.
A especialista independente apresentou sua avaliação ao Conselho de Direitos Humanos na véspera do alerta emitido pela FAO (8), Dia Internacional da Mulher.
Segundo Elver, a discriminação de gênero atinge as mulheres em muitos níveis, colocando obstáculos a seu acesso a alimentos ao longo de toda a vida.
Em países onde a mulher possui um status social “inferior” ao homem, é comum que elas recebam menos comida durante as refeições, apontou a relatora. Segregação baseada em gênero frequentemente vem acompanhada de outras formas de discriminação, envolvendo etnias, religiões, diferenças entre classes sociais e castas.
Atualmente, mulheres envolvidas na produção de alimentos enfrentam dificuldades para manter a renda de suas famílias, devido à crescente competição com produtos agrícolas importados, aos preços reduzidos e à desvalorização das commodities no mercado internacional.
Elver recomendou a implementação de políticas sensíveis a questões de gênero por parte dos governos. Para a especialista, é necessário garantir os direitos à terra e reforçar o acesso de mulheres e meninas à educação e à proteção social, além de garantir a participação delas em processos decisórios.
“Já foi demonstrado que aumentar o controle das mulheres sobre os insumos tem efeitos positivos em resultados de desenvolvimento humano importantes, incluindo a segurança alimentar das famílias, a nutrição e educação infantis, o bem-estar e status das mulheres no interior do lar e das comunidades.”