O sorriso sempre aberto e franco, assim como as frases divertidas de tão diretas, são marca registrada de Gilberto Scofield Jr, correspondente do jornal O Globo na China, que vem ao Brasl no próximo mês para lançar um livro sobre a sua experiência em Pequim. Por sua vez, a franqueza e lealdade de Sônia Araripe com os amigos é o que se pode chamar do seu DNA. Eles são dois dos meus grandes amigos, com os quais convivi intensamente na redação do Jornal do Brasil, entre 1994 e 1998.
Boa Leitura. (Carlos Franco)
A China ainda está aprendendo a criar
Jornalista brasileiro relata em livro como é a vida no país que mais cresce no mundo e conta à Revista Publicittá como é a publicidade por lá
Por Sônia Araripe
Do Rio de Janeiro
Vida de correspondente costuma ser cheia de surpresas. Num dia, pode-se acordado para cobrir um confronto armado. No outro, precisa estar refeito para escrever sobre uma ópera. Não foi o lado aventureiro, nem glamouroso que atraiu o jornalista Gilberto Scofield Jr., de brilhante carreira de cerca de 20 anos (com passagens pelo Jornal do Brasil e Revista Exame), a se mudar de mala e laptop para Pequim em 2004. Versátil, bem-formado, dinâmico, abraçou entusiasmado a o convite para desvendar ao público de O Globo as mudanças que estão acontecendo no país que cresce no ritmo mais acelerado do planeta, puxando, como uma locomotiva o resto do mundo. Foi como caçador de notícias que Gilberto aceitou o desafio. Além de cobrir tudo o que acontece de novidade no continente chinês da arte à economia, da política ao comportamento ele também precisa estar sempre pronto para embarcar. Desde então, cobriu os estragos do Tsunami; terremotos; competições esportivas: viajou a trabalho para o Japão, Coréia e vários países do Oriente. A última cobertura foi das eleições no Timor Leste. Admitindo ser quase um compulsivo por escrever além de marcar presença em todos os produtos do jornal, também mantém no ar um blog com atualização diária -, o jornalista achou que era hora de relatar suas impressões sobre o que tem visto. E vivido. É este relato que chega às bancas no dia 3 de maio “Um brasileiro na China”, da Ediouro. Em entrevista para Revista Publicittá via e-mail , Gilberto conta um pouco destas transformações no país vermelho. Quem quiser ler mais sobre as aventuras e os olhares de Gilberto pode acompanhar o blog
http://oglobo.globo.com/blogs/gilberto/
– O livro mostra o caldeirão em que se transformou a China hoje. Qual o dilema dos chineses? Como eles estão conciliando a tradição e a história com o que há de mais moderno em crescimento no mundo, com taxas que já chegam a 11% ao ano?
Dilema não é bem a melhor palavra para descrever a situação dos chineses. O que existe é uma enorme perplexidade com a rapidez das mudanças, que são derivadas da abertura econômica iniciada nos anos 80, mas que também são turbinadas pela mídia, especialmente a Internet. O problema, neste caso, é o processo de ocidentalização da China, impregnada de um estranho conceito: “tudo que é velho tem que virar novo”. Então lá se vão lugares históricos, derrubados para dar lugar a horrorosos shopping centers, tradições locais dando lugar a modismos importados, como halloween, Valentine’s day, essas coisas.
– Como brasileiro, o que mais te impressiona na China?
A quantidade de gente, sem dúvida.
– Quais são os pontos altos e fracos desta “locomotiva”? Educação, Mercado imobiliário e Esportes, pelo lado positivo? E do outro lado da balança, para baixo, estariam, por exemplo, o pouco caso com o meio ambiente e ainda a falta de liberdade de expressão?
Os pontos altos, em minha opinião, são o enriquecimento do país, os projetos de longo prazo, a humildade e a generosidade das pessoas. Os baixos são a degradação ambiental, o crescimento no contraste entre ricos e pobres, o autoritarismo e certa noção geral de que o governo sabe melhor do que o indivíduo o que é melhor para ele. Odeio.
– Consumo, comportamento, tendências. o que há de update na China que o Ocidente ainda não se deu conta? Ou eles estão apenas copiando e consumindo o que há de mais moderno no ocidente?
Estão apenas copiando. Aliás, este é um ponto fraco da China. As pessoas não são ensinadas a ser inovadoras e criativas, porque isso requer certo grau de independência que o governo e a sociedade não estão dispostos a dar para as pessoas. O resultado é que a China está ainda aprendendo a criar.
– Como são as campanhas publicitárias na China? Há bons anúncios, boas campanhas?
A publicidade é um mercado emergente. Cresceu mais de 20% ano passado, em receitas. Mas é basicamente feito por estrangeiros (as coisas realmente inovadoras). Para se ter uma idéia, uma das mídias que mais cresce na China é o bom e velho outdoor. Porque carro é um fenômeno recente no país. Só em 2001 as pessoas foram autorizadas a ter um carro em seu nome, depois que o país entrou na Organização Mundial do Comércio (OMC).
– Fala-se que Brasil, China e Índia representam o potencial do futuro. Você concorda? Olhando o que a China tem feito, o Brasil tem ainda alguma chance? Quais são nossos diferenciais e pontos fracos?
Concordo. Nossos pontos fracos são um sistema judicial esdrúxulo, governos sem compromisso com projetos de longo prazo e falta de investimento em Educação e Saúde. Mas temos as bases para crescer ainda mais que a China e a Índia se houver disposição do governo em suas diferentes esferas (Executivo, Legislativo e Judiciário) para ser menos imediatista e corrupto.