Por Carlos Franco
O documentário “Em busca da verdade”, produzido pela TV Senado com base no trabalho da Comissão Nacional da Verdade que investigou as violações de direitos humanos durante o período da ditadura militar, com direção de Deraldo Goulart e Lorena Maria, lançado em junho do ano passado, é um retrato fiel da ditadura militar instaurada em 31 de março de 1964.
Há 52 anos, exatamente no dia 13 de março de 1964, o então presidente João Goulart realizou o famoso comício da Central do Brasil prometendo cumprir uma agenda que promovesse a inclusão social dos brasileiros por meio da educação, da reforma agrária e do apoio a projetos de desenvolvimento social e econômico cooperativo e a manutenção e fortalecimento das estatais estratégicas, como a Petrobrás em poder do povo e mais recursos para empresas nacionais. Foi o suficiente para que a elite orquestrasse com a mídia e os militares um golpe, com apoio dos chamados “midiotas”, a massa de manobra que tem sonhos de se tornar também elite (e, assim se vestir e até pensar como ela que lugar de pobre é no andar debaixo, de onde veio e só ascendeu por meio de políticas públicas inclusivas) e da Igreja, que naquela ocasião temia que projetos como a reforma agrária conduzissem o país ao comunismo, na época “cubanização”.
Bem, lamentavelmente, mudam-se alguns atores, no caso os protagonistas, mas o triste filme que é narrativa de um golpe continua em cartaz. Os militares e a Igreja saíram de cena, deram lugar a alguns integrantes do Poder Judiciário que, por meio de vazamentos seletivos de investigações em curso e loucos por holofotes midiáticos, contribuem com essa mesma mídia e as elites para o seu intento até que um novo golpe se torne realidade. Bem escreveu o alemão Karl Marx, no Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, que a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.
A tragédia é o que apresenta o documentário “Em busca da verdade”, vencedor do 37º Prêmio Vladimir Herzog na categoria Documentário TV. Já a farsa é a que será protagonizada em várias cidades brasileiras neste 13 de março de 2016, concorrendo para a mesma finalidade: um golpe no Estado de Direito e na democracia, contra o voto direto da maioria. Desta feita, com direito a cartazes e botons de uma rede de lanchonetes que foi alvo recente de investigações de sonegação fiscal e até com um pato gordo e amarelo nas ruas, alimentado por esta mesma sonegação que degrada os recursos públicos necessários para a melhoria dos serviços à população. Por fim, os “midiotas” não falam mais em “cubanização”, mas em “venezuelização”. E as senhoras das ligas católicas perderam lugar para as evangélicas da santa prosperidade e ostentação com seus pastores e “bispos”de ocasião vendendo passaportes para a riqueza terrena. Em comum, muitos dos que sairão as ruas adoram e adorariam viver no “Tucanistão”, onde falta água e até a merenda escolar é subtraída em tenebrosas transações do que num país que teria todos os meios e condições para ser mais justo e mais inclusivo e menos subserviente aos interesses do capital, hoje especulativo tal qual aves de rapina.
GOLPE DE 1964: UM FILME AINDA EM CARTAZ
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