O tema da campanha publicitária da tradicional grife francesa Hermès deste ano é La flânerie, literalmente um passeio. E Hermès passeia por Lisboa, vai do centro da bela capital portuguesa, percorrendo o espaço histórico da Praça do Comércio (antigo Terreiro do Paço), passando pelo bairro boêmio do Chiado e por belos casarões com belíssimas janelas num dia claro, exuberante e de céu aberto.
A luminosidade reforça as cores dos produtos ícones da grife, os de couro e o seu tradicional lenço enquanto uma sombrinha voa pela paisagem lisboeta com a estampa a ser trabalhada pela grife na primavera-verão 2015 do Hemisfério Norte que começa no próximo mês. É tudo muito simples e é nessa simplicidade que está o luxo. Sim, os produtos Hermès são um luxo. Lisboa é um luxo.
POR YUME IKEDA, DE TOKIO
Hermès com sua nova campanha parece seguir os passos de Mon Oncle e de Mr. Hulot em férias, os incríveis personagens de Jacques Tati, e flana pelas ruas de Lisboa na mesma musicalidade que nos traz de volta aquilo que os italianos chamam de dolce far niente. É tudo muito simples, por isso sofisticado e os objetos da grife vão surgindo em cena, sem compromisso – e esse é um compromisso muito maior porque os recorta naquilo que Lisboa tem de mais belo: seus casarões. O lenço tradicional da grife ganha um céu de azul infinito, enquanto a bolsa – as mais desejadas pelas mulheres do planeta – está destacadamente na mesa de um café, mas sem alarde, um detalhe apenas – e que detalhe. É a vitrine de calçados que atrai a atenção do modelo de forma também displicente, nada persuasiva.
O filme é simples e desbojado como a nova estilista da famosa grife, a francesa Nadège Vanhee-Cybulski que substituiu oficialmente este ano Christopher Lamaire, que como seu antecessor, Jean-Paul Gaultier, saiu no ano passado para lançar seu próprio nome no mercado. Com uma história que teve início em 1837, a marca Hermès é, em si, uma lenda que vale bilhões de dólares e também uma escola de luxo e bom gosto.
Quando começou seu negócio, artesanal, de produzir selas de cavalos e acessórios para cavaleiros, Hermès queria, desde o início ser o melhor no que fazia e o melhor estava justamente no detalhe, aquele que a logomarca carrega ainda hoje, mostrando a carruagem, seus arreios, o cavaleiro, suas botas. Nessa época, não havia sombra ou som de automóveis, mas apenas o barulho estridente das carruagens e dos cascos de cavalo nas ruas, que deixavam muita merda na porta dos teatros nas concorridas noite de estreia e tal quantidade passou a ser sinônimo de bom espetáculo e de casa cheia. Merda, portanto, a todos os atores e a todos os espetáculos.
Hermès se instalou primeiro no Caléche, depois no famoso número 24 da Rue Faubourg Saint-Honoré, de onde, agora, saiu para passear por Lisboa porque bom gosto é tudo na vida, no dolce far niente lisboeta, quem sabe tomando um café com Fernando Pessoa na Brasileira de Prazins, no Chiado, esperando o anoitecer quando bares e restaurantes da Alfama recebem os turistas e a melhor escolha torna-se o bacalhau de natas nos antigos estabelecimentos em frente à modesta igrejinha de Santo Antonio, na Rua Pedras Negras onde o santinho nasceu a caminho das sinuosas ladeiras que nos levam ao Castelo de São Jorge. Lisboa é a escolha de Hermès nesse flâneur, na arte de flâneur. E que belo passeio!