A UseHuck, grife de Luciano Huck, parece padecer de um grave mal quando o assunto são camisetas de oportunidade. A empresa não acerta uma: escorrega sempre na casca de banana. O pedido de desculpas por ter estampado em camisetas infantis para esse carnaval “Vem Ni Mim Que Tô Facim”, particularmente em ano em que governos e entidades da sociedade civil se uniram e investiram pesado para combater a pedofilia, é um primor. Trata-se de leitura obrigatória para profissionais de comunicação estratégica que enfrentam crises menores, por vezes mais maiores, mas que não chegam a cometer tamanho erro, tanto o da camisa criada quanto o do comunicado.
O CEO do Grupo Reserva, Rony Meisler, sócio de Huck, assinou o seguinte comunicado, pedindo desculpas ao público e dizendo que ocorreu “um erro” conforme notícia veiculada hoje pelo Clube de Criação de São Paulo (CCSP), que possui eficiente serviço de informação online:
“Pedimos profundas desculpas sobre a camiseta Vem Ni Mim Que Tô Facinha e sentimos muito por todos que foram ofendidos pela imagem. Este Comunicado não tem o objetivo de justificar o injustificável; mas apenas de explicar o motivo do erro para que fique claro que não houve qualquer intenção maldosa. Não nos eximimos do erro, nem de qualquer responsabilidade, mas é importante esclarecer que não houve a intenção de ofensa. É comum em e-commerce que as artes das estampas sejam aplicadas posteriormente sobre fotos dos modelos com camiseta branca, conforme o exemplo abaixo. Por erro nosso, todas as artes de Carnaval (inclusive e infelizmente, esta arte) foram aplicadas sobre a coleção infantil e disponibilizadas no site sem a devida revisão. Assim que percebemos esse lamentável erro, imediatamente retiramos a imagem do ar e decidimos escrever essa carta para explicar tecnicamente o problema conjuntamente com um pedido de desculpa pela falta de bom-senso e pelo descuido. Obviamente, não fosse o erro, nem a USEHUCK, nem qualquer outra marca, teria a intenção de usar uma imagem como essa para vender camisetas ou para qualquer outro fim.”, Rony Meisler, CEO do Grupo Reserva
O drama de explicações muito longas é que elas revelam, de fato, aquilo que todos desconfiam: o descuido da empresa em relação ao produto ou serviço que oferece como a própria nota assinala afirmando que foi isso que a levou a “um pedido de desculpa pela falta de bom-senso e pelo descuido”. Descuido, aliás, que parece ser rotineiro. No caso do #somostodosmacacos, não foi diferente. A USEHUCK procurou pegar carona em atitude do jogador de futebol Daniel Alves, que ao receber no gramado uma banana, no campeonato espanhol pela torcida adversária tratando-o como macaco, decidiu come-la. O gesto resultou na hastage, usada por Neymar em solidariedade ao jogador e que se espalhou com diversas pessoas postando fotos nas redes sociais comendo uma banana, numa atitude clara contra o racismo.
Huck entrou na onda, uma onda importante, só que escorreu na casca de banana ao criar pela USEHUCK uma camiseta, com a hastage, e colocá-la a venda por quase R$ 70,00 transformando em mercadoria um sentimento legítimo de revolta coletiva contra o racismo. A ideia, infeliz, das camisetas “somos todos macacos” procurando ganhar dinheiro fácil no debate contra o racismo foi um belo escorregão. Pelo visto, no entanto, parece que o estoque de bananas da USEHUCK é infinito.