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iCONGO QUER POLEMIZAR COM CANNES LIONS

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A organização-não governamental (ONG) indiana iCongo enviou um apelo (a princípio sincero) em forma de denuncia, ao presidente do Festival Internacional de Criatividade de Cannes, o Cannes Lions, Terry Savage, e aos jurados do festival com o seguinte teor: “Por que as ações cessam depois que os prêmios são concedidos? Por que o mundo é um lugar mais feliz apenas durante três meses a cada ano? Falamos com muitos beneficiários carentes e compreendemos a sua decepção evidente na interrupção abrupta de muitas iniciativas maravilhosas pouco depois que as ideias foram coroadas com um Leão”. Fez mais: preparou um comovente filme, assinado pela iCongotv, para que sua intenção chegue a todos.


POR CARLOS FRANCO

E se colocamos em parênteses no texto da apresentanção desse apelo de iCongo o “a princípio” é porque o nosso “a princípio” é absolutamente sincero, pois tais intenções deixam dúvidas tanto quanto a inocência da iCongo em seu recado ao presidente de Cannes Lions e aos jurados tanto quanto das agências ou publicitários que a atendem essa organização e que, talvez, não tenham conquistado êxito em suas intenções ou desejem mais do que aquilo que possam conquistar ou tenham conquistado – leões feridos na selva da publicidade e propaganda.

A dúvida neste caso é mais do que pertinente. É parte da polêmica que iCongo pretende criar em torno do Cannes Lions e cujas intenções em nenhum momento se manifestam de maneira clara. Qual é o desejo que move iCongo ou sua agência? Campanhas e espaço gratuito em mídia o tempo todo? Ações voluntárias de agências e publicitários de forma graciosa sem a recompensa do reconhecimento como subordinados à ONG? O que quer iCongo? Um leão? O que quer os publicitários que para essa ONG trabalham hoje (um filme e sua divulgação global não surgem do nada, há trabalho por trás ou seria mágica?)? Existem mais perguntas nesse riscado do que respostas porque a que surge no filme é quase, ou melhor, é piada pronta a sugestão de que Cannes realize quatro festivais por ano para que o mundo fique melhor o ano inteiro e não apenas nos três meses que antecedem o festival e os leões são conquistados.

Afinal e não é novidade nem para o mercado publicitário sequer para as ONGs como iCongo (ou deveria ser) que o mercado publicitário – as agências e seus profissionais – se valem do trabalho voluntário para campanhas mais criativas que os clientes tradicionais não aprovariam. Um caso notório ocorreu com a J. Walter Thompson Brasil que criou e produziu campanha brilhante para o Ministério da Saúde para difundir em tempos mais duros de AIDS a importância do uso do preservativo e que por questões políticas de ocasião o então ministro vetou o filme que graciosamente acabou nas mãos de uma ONG e foi inscrito pelos profissionais da agência, ou melhor, da produtora, em Cannes. Foi aplaudido em todas as apresentações e o recado foi dado. Repercutiu até pelo inusitado pedido do então presidente da J. Walter Thompson para que a peça fosse retirada da disputa, ou melhor, que o nome da agência ficasse de fora da obra, o que acabou ocorrendo.

O mais importante é que filmes de alto impacto não só ganham prêmios, como atingem o alvo e se, de fato, são bons duram além de um festival, sobretudo hoje em que as redes sociais repercutem, reproduzem sem a preocupação precisa com datas, apenas pela emoção. Pardon: o filme quando tem impacto e esse deveria ser o objetivo de qualquer organização não-governamental é perfeito; fala ao coração exatamente como a ONG mostrou saber fazer. Ajuda e contribui na mobilização. Se o propósito de iCongo é criticar “fantasmas”, filmes criados sem que exista a ONG ou o trabalho social, deveria o fazer mais diretamente. Atacar a qualidade de filmes que sensibilizam e conseguem tornar o mundo um lugar melhor até pelo impacto que causam não parece o melhor caminho. O filme de iCongo é bem feito, dá o recado, mas não oferece respostas, deixa dúvidas quanto ao propósito.

Afinal, o que quer iCongo além de polêmica? Mídia gratuita o ano inteiro? Uma agência e seus profissionais à disposição? Que os filmes sociais não tenham impacto? Que os bons filmes, que atingem objetivos não ganhem leão?
iCongo tem muito mais a responder do que a falar. E quando procura responder ao propósito fica no território displicente da piada. É claro que agências e profissioanais quando veem no trabalho voluntário a chance de premiação lutam por mídia, usam aquela gordura na relação com os veículos para assegurar veiculação. É claro que, nestas ocasiões, mergulham na vida das ONGs, das pessoas as quais atendem, buscam proximidade, conhecer a realidade.

Também existem outros profissionais que mesmo longe dos holofotes ou da conquista de prêmios o fazem pelo imenso coração que carregam no peito. É o caso de Júlio Andery, que sem mídia, sem a necessidade dos holofotes, empreendeu num passado hoje distante uma viagem à pequena cidade de Solidão, no sertão pernambucano, depois de ler reportagem que assinei nas páginas de O Estado de S. Paulo com famílias, crianças que sonhavam com um mundo melhor mas se alimentavam de cactos e bebiam a água dessa planta resistente à seca. Saí de Solidão com lágrimas nos olhos, mas o trabalho do jornalista é o de relatar o fato, trazer o ausente para o presente e, depois, empreender outra reportagem, pois aquela no dia seguinte se torna embrulho de peixe na feira. E a vida segue o curso e Julio seguiu nesse curso da vida viagens até Solidão, transformou-se a si em ONG, sem campanha, sem precisar de divulgação. Apenas procurando construir para uma família um mundo melhor em que sonhos de crianças que olhavam o jatinho com o qual o então vice-presidente Marco Maciel do então presidente Fernando Henrique Cardoso como se fosse um grande pássaro. Do alto, Maciel, orgulhoso dizia que essa era sua gente. Júlio Andery tornou-se essa gente, sem propaganda.

iCongo parece querer assim, com este filme, apenas os holofotes. Realiza o trabalho jornalístico de mostrar a realidade com o propósito de atrair para si a atenção de Cannes e de alguma agência ou veículos não por três meses de esforços, mas pelo ano inteiro.

A dignidade de pessoas como Júlio Andrey, que talvez fique inclusive chateado por minha inconfidência em tratar no público o que ele tratou no privado de seu imenso coração, hoje está em falta nesse mercado publicitário. O que é uma pena. O filme comovente de iCongo apenas revela essa face de ONGs que querem os holofotes, ainda que arregacem as mangas e sujem os pés e as mãos para construir um mundo melhor além dos três meses que envolvem o Cannes Lions. Mas estes parecem, para iCongo, serem os imprescindiveis. Ainda bem que existem Júlios Anderys nessa vida.

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