A exposição Guerra do Tempo da artista Marilá Dardot marca a reabertura da Chácara Lane como espaço de exposição na região central da capital paulista. Adquirida pela prefeitura na década de 1940, a propriedade é uma das últimas típicas chácaras paulistanas. O imóvel, localizado na Rua da Consolação, já foi consultório médico, biblioteca e arquivo. Em 2012, a propriedade foi tombada em 2012 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.
A seleção de obras de Marilá busca dialogar com a trajetória do casarão e com as marcas deixadas pelas diversas fases. “Acho que a maneira de pensar um pouco o que aquela casa seria daqui para frente depois da reabertura é também olhar para o que ela foi”, diz o curador da mostra, Douglas Freitas.
É justamente sobre como a história vai sendo apagada e reescrita que trata a obra inédita da artista que ocupa o segundo andar do espaço. As paredes foram cobertas com uma seleção de 43 lemas e slogans oficiais do governo brasileiro de diversas épocas. As frases foram, então, cobertas com tinta branca e podem ser vistos como vestígios.
“É uma referência da cidade que se apaga e que muda. Mas é também uma referência clara a essa ideia da casa. De como uma política sobrepõe a outra. De como um ideal sobrepõe ao outro. De como as coisas vão mudando, mas sempre carregam a informação do que está por trás”, explica o curador.
Ao todo são 32 obras que abrangem a produção da artista mineira desde 2002. “Além de abarcar esses 15 anos, eu procurei pinçar obras que são importantes na história do trabalho da artista e, por participarem de exposições importantes, estão no contexto da arte contemporânea brasileira”, explica Freitas sobre trabalhos que estiveram, por exemplo, na Bienal de Arte de São Paulo.
A partir do panorama é possível acompanhar as mudanças na pesquisa da artista. “Em 2013, teve uma chave de mudança na Marilá em que ela deixou de falar do universo pessoal dela para olhar para uma situação social e política”, diz o curador. Nessa linha está o vídeo Quanto é? O que nos separa? “Parte de uma pesquisa feita na Praça Mauá no Rio de Janeiro, onde ela pergunta o salário das pessoas, quanto elas pagam de aluguel. Dá um apanhado social da circulação naquele espaço do Rio de Janeiro”.
Em diálogo com a história do edifício que abriga a exposição estão obras como Marulho, em que livros têm as páginas apagadas, restando apenas os trechos que falam de esquecimento. “O trabalho da Marilá tem uma relação muito forte com biblioteca, com a ideia dos livros que ela coleciona”.
A exposição é gratuita e pode ser vista até o dia 17 de abril.