Por Sandro Alves de França
A condução coercitiva de Lula, que não é, oficialmente, um dos acusados pela Operação Lava Jato, virou um espetáculo midiático sem precedentes na história do Brasil. A imprensa já aguardava e preparava a cobertura pirotécnica de hoje, 4 de março, como se esta fosse um grande show, uma perseguição ao estilo dos filmes de ação de Hollywood. Teve até editor de grande revista semanal postando, via twitter, na madrugada, piadinhas sobre o dia de hoje.
Eu não acho que colher um depoimento seja golpe.
O Estado de Direito, em tese, não privilegia nem isenta ninguém. Eu fico com embrulho no estômago, no entanto, com o jogo de cena de boa parte da grande imprensa que age de maneira coordenada para transformar algo republicano e uma hipótese numa acusação explícita, uma certeza, ainda que velada com verbos no futuro do pretérito simples: poderia, teria, seria, e todo a sorte de outros adjetivos capciosos e estrategicamente postos.
A imprensa já decretou há um bom tempo que Lula é culpado, é o Darth Vader da política. Busca apenas elementos que reforcem uma tese já pré-determinada. Isso pode ser chamado de qualquer coisa, menos de jornalismo. O espírito das ruas também nada tem de republicano. Lembra o viés de histeria coletiva e perseguição sistemática do marcatismo dos EUA e, em menor proporção, do fascismo europeu. Não há institucionalidade que sobreviva a ingerência de uma mídia oligopolizada que decide, ao seu bel prazer e orientação ideológica, o que é verdade ou não, na maioria das vezes à despeito dos fatos.
Afinal, quem precisa da realidade quando já tem uma narrativa previamente acordada mais vendível e mais condizente aos seus interesses corporativos? Dizem que não restará nada nem ninguém depois da Lavo-Jato. Veremos se chegará à porta de todas as casas. E o que sobrará do país depois disso.