A curadora explica, ainda, que Migrações foi construída a partir de três eixos – imagens de migrantes que se deslocaram para a América Latina no século XX: o caso argentino; imagens do exílio: baseada na experiência pessoal de Marcelo Brodsky; e imagens da migração contemporânea no Mediterrâneo. “A perda do lar e a busca pela sobrevivência costuram estes diferentes momentos”, afirma.
O primeiro conjunto reúne trabalhos criados a partir de imagens do arquivo familiar do fotógrafo e de arquivos especializados na imigração para a América Latina. O artista intervém nestas fotografias com textos escritos a mão e constrói uma narrativa sobre a imigração de seus avós da Rússia para a Argentina no início do século XX.
Em “imagens do exílio”, Brodsky traz à tona memórias da ditadura militar na Argentina e de seu exílio para Barcelona (Espanha) entre 1978 e 1985, tema de Autorretrato fuzilado (1978), As chaves (1979), entre outras fotos. “Fui imigrante e vivi na carne o que significa abrir caminho em um novo país. Aprendi muito com a transição democrática espanhola. Depois, levei à Argentina os conhecimentos que adquiri em política, direitos humanos e formação visual”, conta.
A repressão política é evocada também em trabalhos da série Buena Memoria (1997), como um vídeo com imagens do Rio da Prata, em cujas águas foram lançados milhares de corpos durante o regime militar na América Latina, uma fotografia do irmão desaparecido e outra do tio que chegou à Argentina por este mesmo rio.
Já a travessia de imigrantes da África para a Europa pelo mar Mediterrâneo completa a exposição. Nos trabalhos desta terceira parte, como Madonna de Pireo, Marcelo Brodsky insere cores e escreve em fotografias de agências de notícias frases como “queremos refúgio”, “todos somos imigrantes” e “o asilo é um direito”.
Mesa-redonda
Na abertura da exposição, o Paço das Artes realiza, ainda, um debate com Priscila Arantes, Marcelo Brodsky, Marie Ange Bordas e Sonia Guggisberg sobre processos migratórios e a situação de refugiados políticos no Auditório do LABMIS, às 17h.
Sobre o artista
Marcelo Brodsky é argentino e tornou-se fotógrafo no exílio em Barcelona nos anos 1980, durante a ditadura militar em seu país. Foi aluno de Manel Esclusa, famoso fotógrafo catalão, no Centro Internacional de Fotografia. Paralelamente, graduou-se em economia pela Universidade de Barcelona. Sua obra traz uma constante abordagem política, expressa em exposições como Los Condenados de la Tierra, Buena Memoria e Nexo. Na obra Imágenes contra la Ignorancia, fez uma intervenção pública contra o nazismo, em Hannover, na Alemanha.
Sobre a curadora
Priscila Arantes é diretora artística e curadora do Paço das Artes, instituição da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, desde 2007. Entre 2007 e 2011 foi diretora adjunta do MIS (Museu da Imagem e Som). É pós-doutora pela Pennsylvania State University (EUA), doutora em Comunicação e Semiótica pela (PUC/SP), pesquisadora, crítica de arte e professora universitária em cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu.
Em 2007, foi finalista do 48º Prêmio Jabuti pela publicação Arte@Mídia: perspectivas da estética digital (Ed.Senac/Fapesp). Em 2012, foi contemplada com o prêmio da Getty Foundation (USA), para participar da 101ª Conferência Anual da College Art Association (CAA). É autora também de “Reescrituras da Arte contemporânea: história, arquivo e mídia” (Editora Sulina, 2015). Entre suas curadorias no Paço das Artes, destacam-se os projetosLivro_Acervo (2010), Para Além do Arquivo (2012), Arquivo Vivo (2013), MaPA: Memória Paço das Artes, Abrigo de paisagem/Veículo de passagem (2015), de Rodrigo Braga, e ISSOÉOSSODISSO, de Lenora de Barros.
Sobre as convidadas
Marie Ange Bordas é artista multimídia, escritora e articuladora cultural, que se dedica à criação de projetos de arte participativa, alfabetização visual, mídia e criação de livros, sobretudo, em comunidades deslocadas em diversos países e em comunidades tradicionais no Brasil. Seus projetos enfatizam o cruzamento de linguagens e poéticas para construir processos colaborativos orgânicos, empoderadores e críticos, centrados nos saberes/fazeres e dinâmicas sociais próprias de cada local. Editora do Caderno Videobrasil 09_Geografias em Movimento.
Migrações
Artista: Marcelo Brodsky
Curadoria: Priscila Arantes
Abertura*: 18 de outubro de 2016 >> terça-feira >> 18h
* Na mesma ocasião, ocorre uma mesa-redonda com Marcelo Brodsky, Marie Ange Bordas, Priscila Arantes e Sonia Guggisberg, às 17h.
Grátis
Paço das Artes no MIS
Av. Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo/ SP; tel.: (11) 2117-4777
Horários: terça a sábado, das 12h às 20h; domingo e feriado, das 11h às 19h