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"MY NAME IS NOW. ELZA SOARES" - Revista Publicittà "MY NAME IS NOW. ELZA SOARES" - Revista Publicittà

“MY NAME IS NOW. ELZA SOARES”

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O Filme “ My Name Is Now, Elza Soares”, da diretora Elizabete Martins Campos, apresentado na IN-EDIT BRASIL, concorre ao prêmio de melhor documentário musical. Um filme que faz jus à força do povo brasileiro num devir revolucionário. É o que a diretora conseguiu através de sua expressão nos transmitir usando a musicalidade e grande vida de Elza Soares.

 

OUR NAME IS NOW

Por Heloisa Antônia Franco*

“A carne mais barata do mercado é a carne negra”, essa carne oprimida que não para de agitar-se sob as dominações, de resistir a tudo o que esmaga e aprisiona e de, como processo, abrir um sulco na terra para fazer crescer outra justiça neste País e no mundo.

Elza não para, não sossega, é inquieta. Um furacão. Ela cria uma espécie de língua estrangeira. Usa um tipo de língua que é o tempo todo reinventada, gritada, revolucionada como um delírio histórico universal onde explicita com irreverência a podridão do mundo, com suas idiossincrasias, contradições, combates, perversões malvadas. Língua que nos arrasta para fora e na interioridade de uma certa cultura dominante: a do homem europeu, branco . Como nos diz Lawrence, “temos que acabar com nossos segredinhos sujos” e pensando com Deleuze, “temos que por fim aos juízos.

Sob o olhar perspicaz da diretora, Elza é puro devir, é a Fênix, renascendo das cinzas de cada tragédia, renascendo do sol, da lua, do furacão, das tormentas, explosões, trovoadas, preconceitos, rejeições, violências cometidas contra “a carne mais barata do mercado, a carne negra”.

É o canto da Fênix ,o vôo da liberdade. Uma grandeza de voz que não quer calar neste corpo que já não aguenta mais… esse corpo que “vai de graça para o presídio, vai de graça para o subemprego, fazendo a história desse país no braço… Esse país que vai deixando todo mundo preto de cabelo esticado…”

Esse corpo que não aguenta mais ser massacrado, pisoteado. O grito que Elza traz na voz é uma orquestra musical que inventa um outro povo, uma nova luta, uma nova vida, um combate contra este olhar para o que é negro e escuridão. Combate entre todos que foram traídos, alvejados, separados, marginalizados, renegados a carne mais barata do Brasil.

Elza salta da lama e se eleva às forças ancestrais e cósmicas, aos orixás, as magias das feiticeiras, a todos os santos, a doçura de um eterno devir criança que traz em seu olhar e na voz com força profética angelical. “É dia de jogar flores no mar… é dia de dar presente para Iemanjá… vou pedir a Santa Clara para me ajudar…”
Traz um devir político na maior delicadeza que se exterioriza nas denúncias que Elza traça – my name is now.

Now com todo o preconceito ainda existente nos coloca cara a cara com o nosso nome agora, o que ainda trazemos no sangue de ancestralidade racista, seres apodrecidos pela sociedade. Como nos diz Baudelaire: “Cada um carrega um cadáver entre os dentes”.

O filme vai deixando todo mundo negro… na cor, na visão, no medo… na lama dessa escuridão falaciosamente preconceituosa. Mas a Elza Fênix não se fixa em nenhuma imagem… traz na carne o estrondo dos orixás, as trovoadas de Iansã , todas as facetas da lua, todas as tonalidades do sol, todos os movimentos oceânicos…

Traz na veia da garganta rasgando o sangue fluido no transe, no trânsito, na passagem em ato. Renasce a cada salto e vai construindo seu pensamento a partir das travessias que faz em suas experiências de vida pulsante e arte.
É o mar de todos! O mar para todos!

Esta tensão que vai sendo criada no documentário que é também música da melhor qualidade filmada e cantada vai invadindo nossas entranhas e fazendo vibrar uma força intensiva que brota dessa natureza animal que Elza traz na carne e neste olhar doce cheio de ternura e histórias, que é pura potência em ação fílmica.

Elza devém todos.
Elza multidão só ares.

A sua música é universal, fala de tantos povos excluídos… inventou sua música carregando água na cabeça e, hoje, dialoga com as multidões, mirando-se no espelho, ou nos espelhos dos olhares de tantos… O olhar vem sempre antes das palavras… “Eu não sou nada”, diz.

É da música que extrai o melhor de si. A sua alma musical universal que soa, ressoa só ares marítimos oceânicos…
Por isto Elza é ela por si só um instrumento musical vivo, em forma viva da cor mais barata do Brasil.

São muitas as tessituras que vão sendo tecidas em nós – a negritude – a vergonha – o preconceito em nós.

My name is now!!!!! Um convite para que nos transportemos para dentro numa mirada do que há de melhor e de mais miserável em nós. Sacode a poeira e dá a volta por cima.

“Eu te adoro, espelho!!!” “Fui acariciada pelas janelas que se fechavam quando eu passava” . As lágrimas que devolveram a inteireza só poderiam ser de Elza Soares.
E desse ser inteiro nasce um estilo de existir em que coloca a plateia num lugar especular, onde a pergunta pede uma resposta: Quem somos nós? O que queremos? Qual o quantum desta herança ancestral que nos habita? Parafraseando Nietzsche: “Quem quer em mim? O quê quer em mim?”

Our name is now!!!!!

Este filme esplendoroso nos convida a adentrar na nossa negritude, na miséria das sociedades e vai criando um outro que é o mesmo… desapropriado de sua alteridade. “Torna-te o que tu és”, como nos diz Nietzsche.

Num território de tantos gestos , Elizabete consegue trazer para a tela um mundo com todas as suas tonalidades de alma. E Elza é a atriz por excelência das multiplicidades de tonalidades musicais da melhor qualidade do Brasil. Como diz Goddard “o cinema mostra-nos um mundo que cabe em nossos desejos”. Somos o que queremos ser!!!! Renascemos a cada instante. “ Há sempre um lado que pesa e um outro lado que flutua. Tua pele é crua. É crua”, nos diz Otto.

Somos performáticos, nos transmutamos em muitos e não somos idiotas.

 

*Heloisa Antônia Franco é psicóloga clínica

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