Berlim, 1990. Tínhamos acabado de transar e eu me perguntava como meu namorado alemão conseguia ser tão perfeito. Aliás, eu me perguntava como a Alemanha conseguia ser tão perfeita. Bom, não vou entrar em detalhes sobre meu complexo de inferioridade. Berlim, 2015. Meu namorado alemão é meu marido há 25 anos, está doente e hoje depende de mim para tudo. Não me acho perfeita, mas sei que sou essencial para a ele. Deve ser por isso que não tenho mais problemas de autoestima. Ou talvez porque eu esteja ocupada demais para pensar nisso.
Minha viagem a Munique já estava marcada há seis meses, mas teve que coincidir justamente com a chegada de milhares de refugiados à Estação Central. A Alemanha é assim: faz o que quer das minhas estórias. Eu estava ali para meu reencontro com Detlev, um amor da juventude que o Facebook trouxe de volta, mas que não atende o celular desde que desembarquei em Zurique. Agora estou assim, vendo os refugiados sendo aplaudidos e eu, que apenas vim reviver uma estória de amor, esperando por Detlev e temendo pelo pior.
Há quatro anos Sílvia tem aulas particulares de alemão com Günther. Nesta altura do campeonato, uma certa amizade já substituiu o estudo das declinações. Porém, sempre ético, o professor sabe muito bem como se comportar no apartamento da aluna, onde dá sua aula todas as quintas à tarde. Nunca se tocaram. Ah, sim, houve um aperto de mão no primeiro dia. Há duas semanas Günther recebeu a notícia de que herdou uma bela casa e um bom dinheiro de um tio falecido. Ele vai voltar para a Alemanha. Quinta passada não teve aula. Günther e Sílvia transaram a tarde toda.