A agência canadense 1one Production, de Montreal, está provocando buzz nas redes sociais por ter lançado este mês um comercial em que coloca em cena Jesus Cristo numa reunião de “brainstorm” com sua agência de publicidade para tornar público um próximo milagre. Criado pela Ig2, o filme quer mostrar que a boa comunicação é capaz de manter em alta uma ideia, partindo do conceito de que a “marca” Jesus Cristo é uma grande marca, com eficácia comprovada por séculos. O brainstorm da marca Jesus Cristo está dando o que falar.
Religião é sempre assunto polêmico, especialmente quando o alvo são seus ícones, seus pilares que sustentam uma ideia, um grupo social e religioso. Foi assim recentemente na França quando o jornal satírico Charlie Hebbo foi vítima de atentado terrorista de grupos islâmicos radicais e que acabou por atingir mortalmente alguns de seus mais talentosos chargistas ao apresentar Maomé de forma nada lisongeira. O islamismo não aceita imagem do profeta, de nenhum tipo, segue apenas os seus preceitos, satira então é algo impensável e a charge considerada ofensiva virou alvo de discussão em todo o mundo, mas emprestou, é verdade, visibilidade ao jornal.
Os cristãos de um modo geral são mais pacíficos, menos radicais, alguns até mais satíricos, e encontram no Papa Francisco uma imagem de serenidade e abertura para o diálogo, o que não quer dizer que aceitarão com bons olhos a campanha que a agência Ig2 criou para a produtora 1one Production.
O filme parte da ideia de que é preciso propagar com planejamento, criação e, é claro, uma produção bem acabada e emocionante os milagres depois de Jesus Cristo ter transformado água em vinho e ter curado cegos e leprosos e também alimentado com pão e peixe uma multidão de seguidores, normalmente pobres e excluídos da sociedade. No comercial, Jesus Cristo e seus apóstolos buscam apoio da produtora 1one para difundir pelo mundo seu próximo milagre: caminhar sobre as águas e assim perpetuar o que o filme chama de “marca Jesus Cristo”.
Nem precisa ser muito esperto para perceber que agência e produtora querem buzz na internet e se grupos religiosos atacarem a campanha, tanto melhor, pois ganhará em mídia gratuita o espaço nobre dos jornais e dos meios de comunicação eletrônica. É o tipo de ação capaz de gerar polêmica, irritar pessoas, provocar reações de toda a natureza e por meio delas propagar a existência da produtora. O resultado pode ser inesperado, mas certamente atingirá o objetivo de tornar público, não o milagre de Jesus Cristo, mas certamente a agência e sua produtora. A intenção foi essa mesma: criar algo diferente que, embora, muitos falem da eficácia das religiões em se perpetuarem com seus símbolos, mas poucos têm coragem de materializar tal mensagem. 1one e Ig2 o fizeram. Não deixa de ser um case, seguiremos o acompanhando.
