Por Felipe Almeida*
No já longínquo ano de 2015, o Gartner dizia que, em 2016, 75% dos 50 principais bancos globais (por ativos) teriam lançado uma plataforma API, e 25% abririam uma loja de aplicativos voltados para o cliente. Chegamos ao fim do ano da profecia e, se esses números já não se concretizaram, ao que tudo indica, os avanços neste campo estão a todo vapor.
Mas por que longínquo quando estamos há pouco mais de um ano depois dessa previsão? Porque neste cenário o que temos vistos são pequenas revoluções a cada instante: o que talvez fosse uma possibilidade em 2015, hoje já é uma realidade se levarmos em consideração a estimativa feita pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a qual aponta que no Brasil os bancos investem cerca de R$ 20 bilhões por ano em tecnologia.
A ideia de colocar os bancos na era digital está tomando cada vez mais força no mercado brasileiro e as instituições financeiras estão correndo para, de fato, oferecerem a tão sonhada integração que tanto tem se falado com o surgimento do Open Banking. Mas o que realmente é esse novo conceito? A ideia base é permitir que terceiros possam desenvolver aplicações em torno das instituições financeiras, que por sua vez, abrem suas APIs (ApplicationProgramming Interface) – conjunto de padrões de programação que permite a construção de aplicativos.
Traduzindo os bites e bytes, uma API nada mais é que uma interface que roda por trás de tudo, ou seja, enquanto o usuário utiliza um aplicativo ou site, a sua API pode ou não estar conectada a diversos outros sistemas e aplicativos. No universo bancário, esta é a possibilidade de empresas externas passarem a construir aplicativos que interajam com os dados do banco, até mesmo realizarem transações financeiras.
Esse contexto já é uma realidade que começa a conquistar o brasileiro. Se hoje sabemos que muitas pessoas já não vão mais às agências bancárias para pagar uma conta, pois fazem isso via web, a possibilidade de existirem aplicativos requisitando permissão para acessar a conta do usuário para que ele possa realizar transações descomplicadas e com segurança é a grande menina dos olhos do momento. É claro que o banco deve contar com a permissão do cliente e limitar cada operação a um determinado escopo bem específico.
Com a mudança dos padrões do consumidor para o mobile first, buscando uma experiência personalizada e inovação dos serviços, a adesão ao open banking possibilita o crescimento de serviços financeiros inovadores e a geração de riqueza para as partes envolvidas. Esse movimento permite que as Fintechs, por exemplo, possam focar na experiência de uso do cliente e não em construir um backend com serviços financeiros semelhantes ao de um banco. Com isso, o consumidor passa a usar os serviços do core business do banco, mas com o diferencial de uma experiência customer centric que deseja.
Aqui no Brasil, por mais que já existam (poucos) bancos nesta nova realidade, o mercado ainda enfrenta certa resistência de grandes instituições financeiras. A partir do momento em que elas abrirem suas APIs para o mundo, outras empresas se relacionarão com os seus clientes, fazendo com que o banco, como instituição que conhecemos, deixará de ser o protagonista da história, cedendo este papel para os mais diversos parceiros que esta abertura possibilitará ele a ter.
Embora o Brasil faça fortes investimentos em tecnologia bancária, ainda sofremos com a insegurança de realizar certas operações no meio virtual. Por isso, para um banco abrir suas aplicações é necessária uma plataforma de APIs robusta, que contenha uma série de regras e controle de acesso, para que seus parceiros tenham bem claro quais serviços eles podem acessar.
Mesmo diante de certa resistência, o Brasil sempre esteve à frente de outros países no quesito tecnologia e inovação bancária e com o movimento de Open Banking não será diferente. Mas, para isso, as nossas instituições devem ter a consciência que esta abertura só trará benefícios aos negócios, já que o banco passará a ser visto como um provedor dessas novas facilidades, deixando a cargo dos parceiros o relacionamento com o cliente.
O Open Banking é um caminho sem volta. Já é fato que o surgimento de aplicativos próprios ou de terceiros baseados nas APIs bancárias é uma realidade que veio para ficar tendo em vista que a previsão para 2017 é que mais de 60% das instituições já estarão abertas a receber esses novos serviços. Agora, basta apenas saber o quão próxima esta realidade estará ao alcance de todos os brasileiros.
* Felipe Almeida é co-fundador e CMO da Zup, além de coautor do livro Jovens Empreendedores – Líderes do Brasil que dá certo (Editora Leader, 2016)
O BRASIL NA ERA DO OPEN BANKING
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