A propaganda no Brasil ainda é machista e racista revelou a terceira onda do estudo “TODXS? – Uma análise da representatividade na publicidade brasileira” apresentado pela Heads Propaganda no seminário “Por um Planeta 50-50 em 2030 – Mulheres do Amanhã”, realizado pela ONU Mulheres no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira, 28.
Segundo Carla Alzamora, diretora de Planejamento da Heads e líder da pesquisa, 65% das mulheres não se sentem representadas na mídia e na publicidade e que, portanto, 65% das mulheres brasileiras não estão criando conexões com as mensagens passadas pela publicidade. De acordo com ela, isso é um alerta para as empresas se preocuparem em repensar o modelo de propaganda feita atualmente.
“A gente precisa parar de pensar que o que a gente faz é ‘só publicidade’. A publicidade é onipresente na vida das pessoas, cada uma recebe em média de 3 mil a 5 mil mensagens publicitárias por dia. Óbvio que a gente não consegue racionalizar todas elas, mas elas vão formando nossas referências de mundo e o que a sociedade considera belo, aceitável, de como a gente deve agir, ser e se comportar. Por essa razão, a gente é parte do problema. Então por ser parte do problema e ter o poder de definir essas mensagens, a gente tem oportunidade também de ser parte da solução”.
Foram analisadas mais de 3 mil inserções na TV, que indicam que a prevalência de reforço de estereótipos de gênero, restrição de papéis, padrão de comportamento e de beleza. Quanto ao protagonista da peça publicitária, 17% eram o próprio produto, 33% homens, 26% mulheres, 7% ambos e 11% a sociedade.
Entre os homens protagonistas, 83% eram brancos, 7% negros e 10% diversos. Entre as mulheres, a proporção é de 84% de brancas, 12% de negras e 4% diversas. O que revela o racismo na propaganda, embora a maioria da população brasileira seja negra ou afrodescendente. A diversidade racial brasileira ainda está distante dos comerciais e peças impressas analisadas.
A mulher, por sua vez, segue a representação de bela, recatada e do lar, distante da realidade em que vive a maioria das brasileiras, muitas delas hoje, segundo pesquisas demográficas, exercendo o papel de chefe de suas famílias, enquanto provedoras da renda.
A propaganda ainda precisa evoluir muito para romper o mainstream, este terrível conceito que seria a expressão da maioria, na realidade expressando uma mentira, que de tantas vezes repetida, como percebeu Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda Nazista, acaba por se tornar verdade. Só que não (SQN). Esse tipo de propaganda contribui para traumas e um forte sentimento de exclusão representando danos irreparáveis para toda a sociedade.
Hora de refletir sobre esse fazer propaganda sem responsabilidade.
(Da Redação com Agência Brasil)