Em domingos de sol ou nas frias manhãs de junho de Brasília, todo dia é dia de piscina para Bruno Medeiros de Oliveira, 13 anos. Nadador desde os 6, o jovem atleta vem se destacando no esporte, mesmo dividindo o tempo entre treinos e estudo. Na rotina de Bruno, a meta é alcançar notas altas na escola e tempos baixos dentro da água.
Por Marcelo Brandão/Repórter da Agência Brasil
“Lembro da última competição do ano passado. Fui nadar o nado medley [prova que reúne quatro estilos de natação], estava lá atrás e quando chegou no nado peito dei aquela arrancada. O cara estava lá na frente aí eu consegui alcançar ele e cheguei em primeiro”, contou Bruno, com a emoção de uma vitória conquistada nos últimos metros.
O treinador de Bruno, Aguinaldo Amorim, diz que o garoto tem boas perspectivas no esporte e elogia a dedicação do nadador. “O Bruno está comigo há quase três anos. Hoje ele está começando a colher os resultados da força de vontade dele. Nunca faltou um treino sequer. Não tem limite para onde ele pode chegar.”
A mãe do jovem atleta, Creusa de Oliveira, diz que o filho sempre administrou bem a rotina de treinos e aulas. “No início até achei que não daria certo. Tinha medo dele se envolver demais no esporte e esquecer a parte da escola. Mas ele foi tirando de letra eu não preciso mandá-lo fazer nada. Ele tem disciplina com treinos e deveres da escola.”
Creusa e Bruno receberam a reportagem da Agência Brasil no Centro Olímpico Rei Pelé, em Samambaia, cidade a cerca de 30 quilômetros de Brasília. Orgulhosa, Creusa fez questão de levar os boletins do filho – com várias notas acima de 9 e nenhuma abaixo de 8 – e vários diplomas de aluno destaque.
A mãe sabe da importância de apoiar o desenvolvimento do filho na natação sem deixar de lado o desempenho na escola. A rotina puxada, no entanto, não parece desanimar Bruno, que quer seguir os passos do ídolo, o campeão olímpico César Cielo.
“Ele me fala que vai estudar e treinar nos Estados Unidos e eu digo para ele lutar pelo que quer. Digo para ele ‘deixa isso na sua mente que lá na frente a gente ainda vai ouvir falar muito de você’. É claro que coração de mãe vai apertando já de agora, mas já vou me preparando”, diz Creusa.
Desde muito pequeno nas piscinas, Bruno ainda está em fase de crescimento, mas tem “biotipo de nadador” – segundo seu técnico – e sabe da importância de se começar cedo no esporte. “Treinando desde cedo, futuramente vou ficar melhor. Então é muito bom treinar desde muito novo porque aperfeiçoo o meu nado e quando for um adulto e estiver na Olimpíada, meu nível já estará bem maior”, sonha. Em setembro, Bruno vai participar de sua primeira competição fora do Distrito Federal, os Jogos Escolares da Juventude, em João Pessoa.
Adolescente olímpica
Se a disputa de uma Olimpíada é um sonho para Bruno, uma jovem de apenas 15 anos, moradora do ABC Paulista, está prestes a realizá-lo. Com a mesma rotina apertada, dividida entre treinos e salas de aula, a multicampeã de tênis de mesa Bruna Takahashi conquistou o direito de representar o Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016 nas disputas por equipes. A postura imponente diante da mesa de jogo esconde o jeito tímido da adolescente.
“Fiquei muito feliz com a convocação para a Olimpíada. Sempre quis participar dos jogos, mas não imaginei que seria tão cedo”.
Bruna treina desde os 8 anos e tomou gosto pelo esporte, que hoje ocupa a maior parte do seu tempo. “Treino de manhã. Depois eu almoço, vou pra academia e treino à tarde. E depois do jantar vou à escola. Sempre chego um pouco antes na escola e faço as minhas lições”, conta.
Os pais de Bruna, Ricardo e Gisele Takahashi, apoiam e participam da rotina da filha, levando-a aos treinos e à escola e acompanhando o desempenho da menina nas competições. “É como uma equipe mesmo”, compara a mãe.
Perguntada se não sente falta de sair com as amigas ou de outras atividades típicas de garotas da mesma idade, Bruna não parece preocupada. “Não sou muito de sair, de fazer essas coisas. Então, para mim não interfere”.
Mas para quem “não é muito de sair”, Bruna tem viajado bastante graças ao esporte. “Já fui para o Egito, França, Espanha, Polônia, Áustria, Coreia, China, Peru, Argentina, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, República Checa, Suécia, Paraguai, Alemanha, Croácia, Eslovênia”, lista a jovem atleta.
A escola e a formação do atleta
Tanto a jovem mesatenista quanto o promissor nadador brasiliense deram os primeiros passos no esporte no começo da idade escolar. Para Creusa, mão de Bruno, a escola deve ter um papel fundamental no desenvolvimento de alunos-atleta como filho, para entender o dia a dia diferenciado e dar a assistência necessária para evitar entraves burocráticos.
“Agora em setembro o Bruno vai representar o DF nos Jogos Escolares. O professor de educação física dele já avisou que se tiver em período de provas, ele as fará depois em separado, não o prejudicará em nada. O professor já está agilizando a documentação para a viagem dele. A escola está resolvendo tudo para em setembro ele ir representar Brasília”, explica Creusa.
Já Gisele Takahashi conta que a filha sempre estudou em colégios que valorizam a prática esportiva, o que facilitou que Bruna seguisse treinando forte. “Quando ela começou a treinar, já estava em uma escola que apoia o esporte. Então, para ela as coisas correram muito bem em relação à escola e o esporte.”
O presidente da Confederação Brasileira de Desporto Estudantil (CBDE), Luiz Delphino, destaca a importância de uma escola consciente do papel do esporte na formação do cidadão. “O diretor da escola tem que ser o grande gestor dessas atividades. Ele tem que ser o maior interessado em entender que essa atividade só traz benefícios para sua comunidade escolar”, analisa o dirigente.
“A maioria dos entraves que temos no esporte escolar é que o diretor não entende o atleta escolar como uma pessoa em potencial, e sim como alguém que traz transtornos à rotina. O aluno tem que treinar, tem que viajar para competir, tem necessidades diferentes dos demais. É entender a cultura do desporto escolar”, completa.