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O suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) preconizava que todo homem nasce livre, mas acaba por ceder ao meio em que vive, tornando-se, assim, um produto dele. Sorte que o passar dos dias nos permite transformar este meio muitas vezes hostil, desigual, num lugar melhor para viver e cultivar os nossos sonhos e desejos. É com o diálogo, a busca constante pela verdade – a nossa e a contida no mundo que nos cerca-, que é tudo aquilo do qual a dialética é a mais perfeita tradução, que vamos tecendo amanhãs. Mas não há como negar que nosso olhar, nosso falar, nosso agir, está vinculado ao vasto território do que lemos, do que vimos e do que desejamos experimentar – ter com a experiência a nossa própria compreensão da realidade, desse fenômeno extraordinário que é a vida. Por isso, selecionamos trechos de livros, filmes, objetos, imagens que tomamos emprestados para exercermos o nosso lugar no mundo.
A estilista italiana Donatella Versace, nascida em 1955, é fruto desse meio, carrega suas memórias e as compartilha. Aprendeu a sonhar com o irmão Gianni Versace, 11 anos mais velho, assassinado por um gigolô em 1997 (sim, Versace era homossexual e amava a vida e o prazer de viver), de quem herdou a famosa grife e sempre carregou um olhar maduro para o mundo de tudo o que viveu, dos livros que leu, dos diálogos os quais tomou parte e de tudo o que viu. Em resposta, devolve-nos referências, resgata imagens e as imprime na moda.
O ensaio que Versace apresentou esta semana, protagonizado pelo modelo Charlie Kennedy, com a direção de Bruce Weber, é uma prova da capacidade de Donatella Versace em transformar imagens, resgatá-las, ainda que inconscientemente, pois é impossível não notar que na pele do modelo temos o enigmático Tadzio de Luchino Visconti redivivo. O personagem da obra do alemão Thomas Mann, Morte em Veneza, ficou para sempre gravado na memória da geração de Donatella Versace. É um personagem forte, indefinido, provocante que ganhou as telas do cinema em 1971. É assim a moda de Versace e é assim que Donatella apresenta Charlie Kennedy, o rosto atual e contemporâneo do Tadzio de Visconti. É um ato de paixão. La terra trema. O Inocente, parafraseando obras de Visconti, é a própria sedução, não da carne, de Senso, mas do olhar, daquilo que ele resgata e espreita como um leopardo. Il Gattopardo.
O filme mostra Charlie Kennedy e a foto traz de volta o Tadzio de Visconti.